Choque de gigantes angustiados

Rendidos e desesperados por um rumo. Arsenal e Manchester United, dois colossos do futebol inglês, encontram-se hoje no estádio Emirates (17h30, BTV 2) num clima dominado por dúvidas existenciais: serão Arsène Wenger e Louis van Gaal os homens certos para lhes devolver a glória?

A incerteza comum aos dois clubes resulta de um arranque de época frustrante. Ao fim de 11 jornadas da Premier League, o Arsenal já vai em 12 pontos de atraso para o Chelsea e o Manchester United em 13. Wenger atirou a toalha ao chão – “Não vejo ninguém capaz de desafiar o Chelsea neste momento” – e Van Gaal, que começou por pedir três meses antes de o avaliarem e depois afirmou que um ano seria escasso para reerguer a equipa, diz agora que o processo “vai demorar três anos”.

O holandês tem sobre David Moyes, o antecessor despedido ao fim de uma temporada em Old Trafford, a vantagem de apresentar um currículo recheado de êxitos, o que lhe confere maior crédito. E em relação a Wenger favorece-o o trunfo de ter chegado ao clube há pouco tempo, num momento adverso e com o fantasma de Alex Ferguson ainda a pairar. Os adeptos dos red devils parecem compreender melhor esse contexto do que acontece no caso de Wenger com os apoiantes do Arsenal.

“O problema não está em Van Gaal mas no plantel”, sublinha ao SOL Robert Moore, da casa de adeptos do Manchester United nos Estados Unidos, queixando-se principalmente do sector defensivo. “É preciso contratar e dispensar mais jogadores”, reforça Mark Graham, historiador e arquivista do site, onde reúne informação estatística do clube desde 1886.

Também Ruairi McMenanin iliba Van Gaal do facto de a equipa só ter ganho quatro jogos na Premier League até ao momento – o que a deixa com menos quatro pontos do que em igual período da época passada. No entender deste colaborador do fórum oficial de adeptos, a vaga de lesões tem prejudicado a evolução do jogo colectivo: “Para ser sincero, podia estar a ser muito pior”.

Para a visita ao Arsenal, o técnico holandês estará privado de 10 jogadores, incluindo Falcao, Rojo, De Gea e Blind. Di María está em dúvida.

“Van Gaal vai endireitar as coisas, mas precisamos de melhorar no departamento clínico primeiro. Imaginem o José [Mourinho] ou o Wenger sem 11 potenciais titulares”, observa também Mark Graham a esse propósito.

Wenger menos consensual

Nem a eliminação precoce na Taça da Liga Inglesa, perante o MK Dons, do terceiro escalão, por expressivos 4-0, abalou a convicção generalizada de que Van Gaal pode travar a queda no abismo que se seguiu à saída de Ferguson. No fórum de discussão no site oficial do clube, um suposto contestatário do holandês criou esta terça-feira um tópico cujo título é: 'Quem será o próximo após Van Gaal ser despedido em Maio?'. Nenhum adepto respondeu sequer à pergunta e todos os comentários sem excepção revelaram desprezo pela pergunta e apoio ao treinador. O próprio Alex Ferguson já veio a público defendê-lo.

Se o holandês goza de bastante tolerância em Old Trafford, Arsène Wenger é olhado cada vez mais de lado no estádio Emirates. Na 19.º temporada ao serviço dos gunners, o francês continua a ser muito respeitado, mas a descrença alastra. Já passou uma década desde o último título de campeão – o terceiro no reinado de Wenger -, mas o pior será a falta de consistência que tem caracterizado a equipa em anos mais recentes.

“Para mim não faz sentido despedir Arsène Wenger neste momento da época, mas se ele não conseguir tornar a equipa competitiva então talvez seja tempo de ir embora e entrar um novo treinador”, comenta Robbie Lyle, apresentador na ArsenalFanTV, um site com conteúdos vídeo realizados por adeptos.

A crítica mais recorrente entre os adeptos do clube londrino – e que também é tema central das análises na comunicação social – refere-se à reduzida importância que Wenger confere ao sector mais recuado. O técnico é acusado de privilegiar o jogo ofensivo e desvalorizar o reforço da defesa sempre que vai ao mercado.

Não se pode concluir, no entanto, que a permissividade defensiva seja o calcanhar de Aquiles na presente temporada. O Arsenal sofreu apenas mais dois golos do que o líder Chelsea (13 contra 11). O problema é que somou menos oito pontos do que na temporada anterior, quando liderava por esta altura da prova.

“Podemos não ter completado o puzzle a nível defensivo, mas o problema está no ataque”, sustenta Linus Morris, responsável pelo site noticioso, que mantém a fé em Wenger. “Não tenho dedos suficientes para contar os jogadores que não estão a render ao nível da época passada”, aponta, enquanto se debate com uma “espera agonizante” para que os outros atinjam o nível de Alexis Sanchéz, o único jogador que elogia. Nem Linus nem qualquer dos adeptos ouvidos pelo SOL acreditam que United ou Arsenal possam fazer frente ao Chelsea esta época. “Está fora do alcance”, resume este último.

*Com Hugo Alegre 

rui.antunes@sol.pt