Sobre a "Agenda para a Década" do novo líder socialista, Jerónimo de Sousa lamentou as "muitas omissões" e também a atitude de "movimentos e pessoas" de esquerda que, "mais que fazerem um caminho para o Governo, estão a fazer um caminho para o PS".
"Esses movimentos, essas pessoas, mais que fazerem um caminho para o Governo, estão a fazer um caminho para o PS. Quem assistiu ao congresso do LIVRE, verificou, claramente, que foi um palco que serviu – ponto alto e conclusão – António Costa, que abençoou esse caminho que o LIVRE pretende fazer. Há um conjunto de siglas, de pessoas com projectos pessoais – que são de há muitos anos, alguns deles -, criando a ideia de uma plataforma de esquerda para juntar as águas para que o afluente vá ter ao PS", condenou o secretário-geral comunista.
Jerónimo de Sousa, que completa esta semana uma década à frente do PCP, sublinhou que o seu partido "não abdica de assumir todas as responsabilidades, incluindo governativas, que o povo português lhe decida atribuir", desde que "seja o povo a atribuir-lhe e não outra força qualquer".
"Não há aqui pequenos arranjos, pequenas benfeitorias, mantendo no essencial as linhas estruturantes da política. Nós propomos ao povo português uma política patriótica e de esquerda que pressupõe rupturas com este caminho para o desastre e um Governo capaz de a concretizar", afirmou.
Para o líder comunista, "há quem pense 'vamo-nos deixar disso, juntemos os trapinhos com o PS, sempre iríamos para o Governo', mas para fazer uma política idêntica àquela que está a ser realizada".
"Nós, isso, não fazemos. Não podemos, por ambição de poder, estar a dizer uma coisa e a pensar outra… Arriávamos a bandeira, abdicávamos da política de verdade e íamos, a troco de um ou outro lugar no Governo, fazer aquilo que condenamos e consideramos ser necessário ultrapassar e alterar", insurgiu-se, reiterando "a franqueza" do PCP, "ao contrário de outros que, em nome da esquerda, abdicam" de questões fundamentais.
O líder comunista questionou: "Vão para o Governo fazer o quê, governar para quem?", rejeitando a "ilusão de que bastaria uma junção de forças para resolver os problemas sem a definição de uma política necessária para o país".
Segundo o dirigente do PCP, "o que é mais relevante na proposta do PS, na moção de António Costa, é, de facto, muitas omissões".
"Pode-se empurrar com a barriga para dez anos – a chamada estratégia para a década -, mas há questões de grande actualidade que exigem respostas imediatas e aí há um vazio muito grande", disse.
Sobre outro partido da mesma área política, o Bloco de Esquerda (BE), que este fim-de-semana viveu uma disputa interna, Jerónimo de Sousa preferiu não "praticar qualquer ingerência ou emitir um juízo de valor em relação aos processos e relações de forças", mas desejou "que o Bloco encontre os seus próprios caminhos".
"Designadamente, em sede parlamentar, foram muitas as vezes em que convergimos, não só em iniciativas ou votações, mas na construção de requerimentos para o Tribunal Constitucional, com consequências positivas para os trabalhadores e populações. Temos um relacionamento não só parlamentar, mas mesmo no plano político", assumiu, destacando "a identificação de pontos de vista, com divergências naturais", num "quadro de relacionamento largo com o BE".
Lusa/SOL