Choque e dor. As reacções à detenção de Sócrates

As reacções à detenção do ex-primeiro-ministro, José Sócrates, sucedem-se e os socialistas mais próximos têm demonstrado a sua solidariedade, com mais ou menos emoção, depois do choque inicial. 

Choque e dor. As reacções à detenção de Sócrates

Do núcleo duro político dos ex-governos de Sócrates, quase todos os principais ministros já saíram em sua defesa. O ex-ministro do Trabalho de Sócrates, Vieira da Silva, assumiu ter sentido “dor” pela situação do ex-primeiro-ministro. “Sobre a posição do PS, já tudo foi dito pelo secretário-geral eleito pelo PS e nada tenho a acrescentar. Vejo com dor. Trabalhei vários anos com José Sócrates e a imagem que tive e tenho dele não é a que tem sido divulgada nos últimos dias. Habituei-me a ver uma pessoa que lutava até às suas últimas forças pela ideia e visão que tinha e queria do seu país”, afirmou.

Já o ex-ministro, Jorge Lacão, mostrou-se “consternado”. “Como qualquer pessoa amiga de José Sócrates, estou consternada com a situação", disse.

Também o ex-ministro Rui Pereira escreveu, na coluna que tem no “Correio da Manhã”, que  “a detenção para mera apresentação perante autoridade judiciária só se justificaria se não pudesse ser obtida espontaneamente. Porém, não são os indícios que garantem, por si só, uma condenação futura, nem uma absolvição prova um erro anterior”.

Outro ex-ministro de Sócrates a comentar o caso foi Augusto Santos Silva que criticou a actuação do Ministério Público, devido à violação do segredo de justiça. “Por onde pode começar o Ministério Público a investigar esses crimes, como é sua obrigação: o próprio Ministério Público”, escreveu o ex-ministro no Facebook.

As redes sociais, em particular o Facebook, têm sido utilizadas para falar sobre a detenção pelos socialistas mais próximos de Sócrates. Foi o caso da ex-eurodeputada Edite Estrela que levantou suspeitas sobre o momento em que ocorre esta detenção: “Qual a melhor forma de desviar as atenções do escândalo dos vistos gold?”.

O deputado do PS, Renato Sampaio, um dos socialistas mais próximos de Sócrates e amigo de longa data, escreveu um longo texto intitulado “Acreditar”. “É verdade…um amigo meu está a passar um momento muito difícil”, começa por dizer. “Fui surpreendido como todos e fiquei chocado como muitos, mas o que está a ser difícil de verdade é recuperar da incredulidade da surpresa e recuperar a serenidade do choque sofrido. Diante da situação não nos resta outra alternativa que não seja remetermo-nos ao silêncio, esperar e acreditar que se faça justiça e a verdade impere. Diante da situação não nos resta outra alternativa que não seja acreditar na sua inocência e na sua boa fé. Eu acredito”, acrescenta.

Renato Sampaio diz acreditar na “capacidade de resistência”, na “força”, “capacidade de defesa” e “clarividência” de Sócrates e garante: “Seja qual for o desenvolvimento da situação estarei, como sempre estive, ao lado de José Sócrates e solidário com ele”.

O ex-ministro de António Guterres, Paulo Pedroso, – cuja detenção, em 2003, foi transmitida em directo pelas televisões – utilizou a rede social Twitter para criticar a detenção de Sócrates: “Ver 12 anos depois, noutra pessoa, a mesma encenação mediática e a mesma filtragem ‘noticiosa’ choca da mesma maneira”.

As críticas à detenção do ex-primeiro-ministro sucederam-se até mesmo entre os socialistas com menos ligações a Sócrates. João Soares, que foi adversário de Sócrates em 2004 nas eleições para secretário-geral, foi um dos primeiros a criticar a detenção: “Excepto por crime de sangue, em flagrante delito, não aceito a prisão (que "pudicamente" designam por detenção) de um ex-primeiro ministro como José Sócrates".