Sócrates: duro golpe no PS

A prisão de Sócrates oferece ao PSD e ao CDS uma oportunidade de ouro para embaraçar o PS, e estes, apesar da prudência dos primeiros momentos, não a devem desperdiçar. Mesmo assim, os partidos da maioria sabem que devem agir com muita cautela.

Isto porque os danos do processo podem estender-se a toda a classe política. “Para mim os políticos são todos iguais”, dizem algumas pessoas, contrariando o que afirmou Passos Coelho. E esta frase revela o sentimento de muita gente.

Daqui podem resultar duas consequências: a primeira é o afastamento crescente entre a política e os cidadãos, patente, por exemplo, no crescimento imparável da abstenção; a segunda é o enfraquecimento do centro e o consequente crescimento das franjas políticas.

O PS pode ver fugir votos para o PCP, para o Bloco de Esquerda, e mesmo para o Livre: como estes partidos não entram nos governos, alguns eleitores podem vê-los como compostos por pessoas mais honestas.

Além disso, todos os partidos podem perder votos para o novo partido de Marinho e Pinto, ou para outros, semelhantes, que surjam. Mas é de admitir que, mesmo que o PSD perca alguns votos, o PS perderá sempre mais, o que resultará em ganhos relativos para o PSD face ao PS.

Assim, e apesar de, potencialmente, todos serem perdedores, o embaraço do PS é indiscutível. António Costa deu a estratégia: “Uma coisa é a justiça, outra coisa é a política”, mas, num partido como o PS, é possível que nem todos a sigam. Basta pensar nas afirmações de João Soares, que hoje se referiu à prisão de Sócrates como “injusta” e “injustificada”.

Certo é que o processo judicial encaminha-se agora para julgamento, que poderá ter sessões diárias, e que essas sessões terão presença permanente na comunicação social. Isso, claro, será péssimo para o PS.

Como não me canso de escrever, António Costa é um político muito hábil. Necessariamente, terá algo a dizer sobre este assunto no congresso do próximo fim-de-semana. E um congresso é sempre um momento indicado para animar as hostes.