Grupo Lena: obras a alta velocidade

Os investimentos públicos em infra-estruturas no mandato de José Sócrates foram um balão de oxigénio para as empresas de construção em Portugal, já a braços com a crise no mercado habitacional. Para o Grupo Lena, foram um pouco mais do que isso. Os projectos dinamizados pelo Governo deram uma visibilidade até então nunca atingida pela…

A génese da empresa remonta à década de 50, como um pequeno negócio na área de construção e terraplanagens. A constituição formal do Grupo Lena dá-se já no final da década de 90. A empresa aproveita o boom da construção no país, diversifica negócios – monta uma vasta rede de imprensa regional –  e chega à primeira divisão da construção na década seguinte.

Em 2007, numa comunicação aos accionistas no relatório anual, o presidente do Grupo Lena, António Barroca Rodrigues, assumia como objectivo estratégico “integrar consórcios capazes de apresentar propostas vencedoras aos principais projectos de obras públicas em Portugal”.

Este desejo materializa-se: no final do primeiro mandato de Sócrates, os projectos sucedem-se. Nas auto-estradas, a empresa já tinha presenças minoritárias nas PPP que exploram a A8, a A15 e a A17, mas 2009 revela-se um ano de crescimento exponencial no negócio das auto-estradas. Participa no consórcio da concessão Baixo Tejo, com uma participação de 6,875%, e entra em força na concessão Litoral Oeste. Fica a co-liderar esta PPP através da Auto-estradas do Oeste, uma sociedade detida em parceria com a construtora MSF.

Esta concessão, que abrange vários troços entre Tomar, Nazaré e Leiria, revelou-se particularmente proveitosa. Segundo um levantamento feito em 2012 pelo Tribunal de Contas (TdC), numa auditoria ao financiamento do sector rodoviário, a concessão Oeste Litoral aparece como a PPP do mandato de Sócrates que mais dividendos deu às construtoras, face ao investimento previsto. No relatório, o TdC indica que a Taxa Interna de Rentabilidade Accionista deste projecto – em termos simples, a taxa de lucro das concessionárias – atingiu 13,1%. A média no mandato de Sócrates foi de 9,48%.

Generosa para as concessionárias, esta PPP está entre as que mais encargos estão a gerar para o Estado. De acordo com o último boletim da Unidade Técnica de Acompanhamento de Projectos do Ministério das Finanças, é a segunda concessão que mais pesa na despesa. No segundo trimestre, gerou um prejuízo de 42 milhões de euros – apenas superado pela concessão Interior Norte.

Mas o fim do primeiro mandato de Sócrates não gerou negócios apenas nas concessões do Grupo Lena. É também em 2009 que a empresa dá um salto de gigante para um dos projectos mais emblemáticos do Executivo socialista: o TGV. A empresa outrora regional integra o consórcio internacional Elos, liderado por pesos pesados do sector como a Brisa e a Soares da Costa.

O Grupo ficou com uma participação de 13% na sociedade que agrupou as diferentes empresas, que iria construir o troço de alta velocidade ferroviária Poceirão-Caia. Anunciado com pompa e circunstância pelo então ministro António Mendonça, o projecto previa um investimento de 1,4 mil milhões de euros.

 Nas obras, destacam-se ainda as adjudicações da Parque Escolar. Segundo os dados do Portal dos Contratos Públicos, entre 2009 e 2011 a construtora esteve envolvida – sozinha ou em consórcio – em nove adjudicações da Parque Escolar, no valor total de 140 milhões de euros. Foram-lhe atribuídas obras em escolas de Évora, Beja, Portalegre, Lisboa, Felgueiras e Marinha Grande.

No mandato de Sócrates, a internacionalização também dá passos de gigante. O contrato ‘Mision Vivenda Venezuela’, o “maior desafio de sempre” para a construtora, segundo o relatório de 2011, valeu um contrato de 988 milhões de dólares.

joao.madeira@sol.pt