Manuel Alegre: “Não temos medo de fantasmas”

Depois de António Costa, que arrumou o caso Sócrates no início do seu discurso e sem mencionar nunca o nome do ex-primeiro-ministro, foi Manuel Alegre o único a trazer ao palco do Congresso o tema que tem marcado os últimos dias, mas também sem referir nomes. “Somos um partido livre e fraterno que não muda…

Manuel Alegre: “Não temos medo de fantasmas”

O histórico do PS afirmou que os socialistas souberam responder ao “forte choque emocional” e “colocar acima dos sentimentos, a responsabilidade política e nacional do PS”, numa referência à prisão de José Sócrates. “Não era fácil mas conseguimos”, disse Alegre. Uma “vitória política” de António Costa. 

Alegre fez o discurso mais à esquerda até agora deste Congresso. “Existem muitas pressões muitos cantos de sereia. A razão principal porque apoio Costa é porque, tal como há 40 anos Mário Soares, saberá preservar a autonomia estratégica, resistir aos cantos de sereia. Não permitirá que o PS se transforme numa muleta da direita ou mesmo no terceiro partido da direita”, afirmou. 

António Costa tem-se abstido de falar numa renegociação da dívida, uma ideia defendida por vários socialistas, incluindo alguns muito próximos como o deputado Pedro Nuno Santos, preferindo falar numa “leitura inteligente do Tratado Orçamental”. Mas Alegre vai mais longe e pede ao secretário-geral um “pacto nacional europeu para a renegociação da dívida”. 

Num discurso marcadamente ideológico, Alegre criticou os socialistas europeus que “por vezes capitularam ou deixaram colonizar-se ideologicamente”, uma das razoes para a “deriva europeia” em que a direita venceu sem resistência e “muitas vezes com conivência”. “O nosso combate também é ideológico”, assumiu Alegre. “Não somos o PSD menos, somos o PS mais” que vai lutar “em nome da esquerda dos valores, contra a direita dos interesses”, frisou. 

Alegre criticou Cavaco Silva: “Portugal é mais que cavalos e mulheres bonitas”. E também disparou contra o Governo referindo-se à reforma do Estado como “gambuzino político”. 

O socialista alertou para os perigos do populismo e da demagogia, sublinhando que é aí “que se mostra a coragem dos partidos e políticos e das grandes lideranças”. 

Alegre acabou o discurso a lembrar a revolução: “Não pedimos licença a ninguém para fazer o 25 de Abril, não temos que pedir licença para defender os portugueses”. Por isso, diz Alegre, é preciso fazer “duas rupturas democráticas”, uma com a “deriva neoliberal da tecnocracia para subverter a Europa” e também com a “subserviência” de quem aplicou as receitas da troika “com a única preocupação de agradar aos credores”. E recebeu uma ovação de pé.  

sonia.cerdeira@sol.pt