Já vimos isto

Desde a licenciatura ao domingo que os fins-de-semana não correm bem a José Sócrates. Detido numa sexta-feira à noite e até ao momento em que escrevo, sem notícias sobre o que será o seu futuro próximo, o ex-primeiro-ministro está a ser investigado por suspeitas de prática de crimes graves. Sobre isto não adianta agora comentar.…

Uma ou três

No Museu Calouste Gulbenkian pode ser vista uma exposição generosa intitulada A História Partilhada: Tesouros dos Palácios Reais de Espanha. As obras reflectem a história que se cruza entre Portugal e Espanha em acontecimentos como guerras ou casamentos. As ligações entre os dois países são visíveis nos retratos dos membros das famílias reais, reunidos numa árvore genealógica muito útil logo à entrada. Há duas alternativas para fazer a visita: com um guia conhecedor dos protagonistas e da História ou sem ninguém a limitar os seus passos. Aconselho as duas maneiras e mais uma. A primeira visita pode ser de reconhecimento do local e deve servir para prestar homenagem a um Tiziano (Ecce Homo), um Caravaggio (Salomé com a cabeça de São João Baptista) e dois Goya (Fábrica de Balas e Fábrica de Pólvora). A segunda deve ser feita com o guia. Aconselho uma terceira visita a quem quer demorar o seu tempo a ver a armadura deslumbrante de Carlos V.

Justiça e política

Maria de Belém afirmou que «à justiça o que é da justiça e à política o que é da política» como se fosse a continuação natural de uma frase dita por Jesus Cristo para resolver um problema de pagamento de impostos: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». As moedas cunhadas não pertenciam à religião, assim como as questões de fé não eram julgadas por César. Penso que a ideia era dizer que não comentava um processo em curso e também, mais subtilmente, que o Parlamento não estava acima dos tribunais. Se for isso, a notícia é boa, mas deve ser encarada com cautela porque não queremos chegar ao ponto em que somos governados por tribunais, incluindo o Tribunal Constitucional. Na justiça, a mentira é punida. Numa democracia, a política é uma mentira necessária dita à vista de todos. E é necessária para não sermos um regime totalitário, que decide quem é culpado e que diz a verdade porque não tem de manipular. Precisamos de ambas.

Os vitalícios

Pensava que o país estava depauperado, numa recuperação a passo de caracol depois de uma crise avassaladora? Achava que estava a ser obrigado a pagar impostos a triplicar porque ainda não era possível pagar menos? Pois pensava e achava mal. Portugal atingiu a prosperidade com uma rapidez avassaladora e o IRS será reduzido já no próximo ano. Como sabemos isto? Na semana passada, os deputados Couto dos Santos (PSD) e José Lello (PS) apresentaram uma proposta para a reposição das subvenções vitalícias aos políticos com um rendimento médio acima dos dois mil euros por mês, suspensa desde 2005 por José Sócrates, a confirmar que até um relógio parado acerta nas horas duas vezes por dia. Entretanto, nos partidos perceberam que talvez não fosse boa altura para repor uma ideia tão excêntrica e a proposta foi retirada. Sugiro que por uma vez nas nossas vidas de eleitores e contribuintes não esqueçamos esta intenção. Ela diz tudo o que temos de saber.

Boçalidade ao rubro

Julien Blanc é um suíço de 25 anos a quem foi negada a entrada no Reino Unido. Uma petição com 150 mil assinaturas e uma acusação de sexismo e promoção da violação levaram o Governo britânico a tomar uma decisão que até agora só fora aplicada a terroristas ou a militantes nazis. Blanc, de aspecto normal, auto-intitula-se um conquistador de mulheres e mestre do engate. Cobra pelas palestras e pelas ‘aulas práticas’. A técnica é simples: desplante, assédio, bullying, uma violência controlada em que pareceria estar a brincar, não fosse a grosseria dos seus gestos. Claro que se as raparigas estão bêbedas, os métodos ganham em eficácia. O homem é detestável mas não sei se negar-lhe o visto é uma boa solução. A escritora Jojo Moyes sugeriu no Twitter que as mulheres comprassem todos os bilhetes e que se sentassem a rir dele. Gosto da parte de ir à palestra, mas rirmo-nos dele é demasiado subtil. Devíamos fazer alguma coisa mais contundente, não acham?