O Kant alentejano

Até eu, que sou alentejano por entusiasmo e afinidade casamenteira, e que tenho uma carrada de filhos com meia costela alentejana, me sinto constrangido com o cante feito Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

O cante alentejano fica muito bem lá, no Alentejo, sobretudo nos campos, para apoiar o trabalho. Também pode abrilhantar qualquer cerimónia que necessite coro, e não seja exigente quanto a vozes e músicas. Tem de resto a vantagem de ser agregador, porque aceita qualquer voz, por pior que seja o timbre, e por muito pouco desenvolta que seja no solfejo.

Mas Património da Humanidade? É natural que os alentejanos se sintam satisfeitos por enfiarem mais esta aos de fora. Contudo… Ele há formas de cantar bem mais qualificadas.

O cante sobreviveria muito bem, sem estes despudores da UNESCO. Por mim, fico, para me rir, com uma montagem que vi numa rede social, da cara do filosofo Kant enfiada numa figura vestida de camponês alentejano, entre outros camponeses alentejanos, em pose de cantoria regional. É o Kant alentejano.