Costa e Passos são genuinamente diferentes

Como os políticos, para usar a expressão do primeiro-ministro, não são todos “farinha do mesmo saco”, há que ouvir os discursos de Passos Coelho e de António Costa para chegar à conclusão que eles são de facto diferentes. Passos é um liberal, Costa um socialista ou social-democrata. Como tal, têm prioridades diversas.

Passos não perde uma ocasião de falar contra a dívida e contra o défice das contas públicas. Os seus governos reduzirem o défice orçamental a metade, por isso Passos tem razão em reclamar esse sucesso. A disciplina orçamental é, segundo ele, o melhor motor de crescimento.

 A dívida só conduz “à bancarrota e ao empobrecimento”. Passos insiste na “disciplina das contas públicas”. Percebe-se que joga aqui uma carta eleitoral importante.

Tanta insistência coloca o PS na defensiva sobre o tema. António Vitorino tem de afirmar que “A dívida é para pagar”, Jorge Coelho declara que “Sou um defensor de contas públicas sãs”. Mas ambos estão a reagir a interpelações sobre o tema, que deixam cair rapidamente. Claramente, o seu foco não é esse.

O que quer Costa, então? Não se percebe bem. Fala vagamente num programa para recuperar a economia, mas não diz o que constará nesse programa, nem como o vai pagar. Costa disse também que o PS avançará com o seu programa de governo apenas na primavera, mas essa falta de detalhes começa a revelar-se embaraçosa. Costa teve agora de falar da educação, e está visto que irá escolher essa como uma das suas bandeiras eleitorais.

Os discursos de um e de outro vão pois divergindo. Para Passos, se pusermos as contas públicas em ordem, o crescimento económico virá a seguir. É essa a sua ortodoxia.

Costa ainda está a ajustar o seu discurso. Mas o essencial do que deve ser dito por um partido de oposição é simples. Como sintetizou um ilustre militante do PSD, Pacheco Pereira, “As pessoas estão a sofrer muito”.

E quem não percebe este sofrimento passa ao lado do que se irá tornar o elemento central do debate político em Portugal. Não é vitimização colectiva, é a realidade. E só partindo deste ponto se pode discutir qual o melhor caminho a seguir.