Acordar o Porto

Quando dizemos que o distrito do Porto perdeu voz, quem acusamos? Quando assumimos que uma parte do distrito – a sub-região do Tâmega – é das mais pobres da Europa, para quem olhamos? Quando vibramos em silêncio com os indicadores económicos e sociais do actual Executivo, quem afinal prejudicamos?

O distrito do Porto adormeceu. Não individualmente, mas no seu conjunto, que agrega hoje 18 municípios com mais de dois milhões de habitantes. O distrito perdeu voz, perdeu influência, perdeu-se em questões internas que dizem cada vez menos aos seus habitantes, aos seus eleitores.

Custa-me que deixemos de responder aos anseios e frustrações da população do distrito do Porto. Que percamos voz e nos distanciemos cada vez mais da nossa base popular, que sempre foi a nossa força.

Parece haver vergonha nos resultados económicos e sociais conseguidos pelo Governo de Passos Coelho. Ora, prevê-se um défice orçamental abaixo dos 3% para 2015 e será a primeira vez que a economia consegue crescer com o Estado a reduzir o défice e com as famílias a reduzirem o endividamento. E não há uma voz capaz de transmitir esta mensagem no distrito.

Isto depois de uma das mais estrondosas derrotas autárquicas, com os contornos de todos conhecidos. É certo que não podemos ignorar a conjuntura política desfavorável, mas uma derrota tão expressiva deve ter consequências. Até porque esteve longe de ser assim noutros distritos.

Sei bem do que falo quando o assunto é o Porto. Conheço as necessidades dos concelhos, mantenho uma relação de proximidade com todos os seus autarcas. Entendo a urgência da reorganização do território e as necessidades dos seus núcleos concelhios. Porque sou do território e estou no território.

Lidero hoje um dos concelhos da região norte que mais reduziram o desemprego. Que souberam inverter o paradigma económico, preparando e apoiando as suas empresas e indústrias para os mercados de exportação. Mercados de maior valor acrescentado e que exigem mão-de-obra mais qualificada. 

Incomoda-me e não aceito que a distrital do PSD perca progressivamente a voz e não assuma os compromissos da região. Longe vão os tempos em que o distrito e o norte partilhavam a agenda do partido a nível nacional. Longe vão os tempos em que o PSD/Porto conhecia melhor o seu próprio povo.

Choca-me o clima de medo. O receio de se mexer com o status quo. Choca-me que no partido plural de Sá Carneiro, um dos principais fundadores da democracia em Portugal, seja preciso haver coragem para a defesa de convicções.
Choca-me ainda mais a vergonha que alguns no PSD sentem em defender o trabalho deste Governo, que merece ser explicado, enaltecido, amplificado.

O Porto tem esse dever. Tem também essa experiência, porque foi daqui que saíram sempre as grandes revoluções.

É hora de acabar com uma forma distante de fazer política distrital. De assumir que precisamos de estar próximos das pessoas, seja qual for o resultado das eleições nacionais. É hora de despertar consciências e de abanar toda uma região. E o Porto tem esse perfil. Tem esse ADN. Tem essa coragem. É hora de acordar o Porto.