Parlamento quer pôr Salgado frente-a-frente com governador e Ricciardi

As audições desta semana na comissão de inquérito ao BES mostraram fragilidades no depoimento de Ricardo Salgado. Há consenso dos grupos parlamentares para chamar novamente o banqueiro e admitem um frente-a-frente com Ricciardi ou Carlos Costa. 

Parlamento quer pôr Salgado frente-a-frente com governador e Ricciardi

O ex-presidente do BES foi desmentido de forma sucessiva por José Maria Ricciardi, Carlos Costa e Pedro Queiroz Pereira. Perante as divergências nas declarações, os vários grupos parlamentares admitem utilizar uma figura pouco usual nos interrogatórios: a acareação. 

A técnica utilizada nos tribunais põe frente-a-frente duas ou mais testemunhas, quando há discordâncias sobre a leitura dos acontecimentos. Nas comissões de inquérito, não é comum ser usada, mas já houve precedentes. Numa investigação ao caso Camarate, em 2003, foi feita uma acareação entre o advogado Sá Fernandes e os técnicos de aviação. 

“É uma hipótese que poderá colocar-se na fase final dos trabalhos”, disse ao SOL o vice-presidente da bancada social-democrata, Carlos Abreu Amorim. O deputado admite que há “relatos contraditórios sobre a mesma reunião”. 

Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda e vice-presidente da Comissão, considera que “faz todo o sentido” pedir uma acareação. A deputada, cujo desempenho tem sido muito elogiado, quer “analisar todas as declarações proferidas pelo governador e revisitar todos os comunicados emitidos”. 

Também Cecília Meireles, deputada do CDS, não descarta um frente-a-frente, mas frisa que “ainda é cedo” e “não há nesta altura informação suficiente para considerar uma versão mais credível do que outra”.

Os grupos parlamentares, contactados pelo SOL, não se comprometem com datas, até porque nesta altura ainda só foram ouvidas 14 pessoas, de um total de 120. 

A acareação coloca-se porque há diferentes interpretações de reuniões em que intervieram apenas Salgado e outra pessoa – Ricciardi ou Carlos Costa. As declarações do antigo banqueiro foram refutadas, em comunicado, pelo governador do Banco de Portugal. O ex-presidente do BES já reiterou entretanto o seu depoimento na Assembleia e acusou o Banco de Portugal de retrocesso nas mudanças de gestão do BES. As sucessivas "erratas" tornam ainda mais premente o recurso a uma acareação.

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