Ao todo serão 18 pessoas em palco – entre elas gente como Tomás Wallenstein, B Fachada, Bruno Pernadas, João Paulo Feliciano, Francisca Cortesão, Afonso Cabral e Selma Uamusse – a executar a morte do alter ego Walter Benjamin, a única forma que o músico encontrou para conseguir abraçar outras aventuras, nomeadamente escrever em português. “Não consigo concentrar-me em novas canções enquanto houver outro projecto a pairar”, diz ao SOL, por telefone.
Foi enquanto vivia em Londres que Luís começou a sentir a urgência de cantar em português. Não pelo facto de se sentir um emigrante (foi para lá estudar), mas antes por ver o desalento dos compatriotas que chegavam todos os dias à cidade, mesmo aqueles cujas perspectivas profissionais eram favoráveis. “Conheci tanta gente que foi por obrigação, por Portugal não os conseguir integrar a nível laboral. E o sentimento de uma certa desorientação identitária era comum a todos”, conta, assumindo que essa realidade o empurrou a abraçar a 'língua de Camões'.
O músico acabou depois por concluir que “não basta uma canção ser boa, ela tem de ser relevante”. “A Faculdade é um universo de putos pouco esclarecidos. Por isso, chegava-me pôr os temas na internet e esperar que alguém daquele universo se identificasse. Só mais tarde é que percebi que as canções que escrevia não chegavam às pessoas do meu país”.
Sem qualquer rejeição pelo que foi feito – materializado, em 2012, no disco The Imaginary Life of Rosemary and Me – Luís Nunes constatou que “seria muito triste chegar aos 70 anos” e ver que não tinha nenhuma canção na sua língua materna. Por isso, no último ano tem-se dedicado a construir esse universo sonoro português e já sentiu a recompensa. A viver no Alentejo, o músico escreveu uma canção sobre um homem que aí conheceu e, quando a cantou, o alentejano chorou. “Chorou porque a percebeu”.
É com esse “valor acrescentado” que Luís Nunes quer dotar a sua música, saindo da sua zona de conforto para se redescobrir em português. Mesmo quando a tarefa é mais trabalhosa. “Escrever em inglês é tão mais simples porque há muitas referências. Em português há poucas e contam-se pelos dedos da mão os artistas com os quais me identifico”.