Comissão de cinco milhões nos submarinos “foi uma retribuição especial”

Manuel Fernando Espírito Santo assume que confiava em Salgado, nega o seu envolvimento nos negócios problemáticos, como a venda dos submarinos ou a alienação da Escom, e diz desconhecer que o elevado passivo da ESI não estava contabilizado.

Manuel Fernando Espírito Santo, antigo chairman da Rioforte, admitiu ter sido um dos cinco ramos da família Espírito Santo, em representação do clã Moniz Galvão, a receber uma comissão de um milhão de euros no negócio dos submarinos comprados pelo Estado português a um consórcio alemão. “Tivemos uma retribuição especial”, apelida o ex-administrador não executivo do BES.

“O dinheiro veio através da uma sociedade para uma conta minha sedeada na Suíça, declarada. Só ouvi falar na Akoya mais tarde. Nunca tive qualquer ligação.” Manuel Fernando Espírito Santo diz que não se recorda qual a sociedade de onde o dinheiro surgiu.

No entanto, Manuel Fernando Espírito Santo esclarece que não interveio no negócio e assegura que a compensação se referia a resultados alcançados e sublinha ter declarado o montante recebido – um milhão de euros – à Autoridade Tributária.

“Quem é o sexto homem?”, perguntou José Magalhães, deputado do PS, acrescentando que não colocar a questão seria sinónimo de ficar gago. “Não sei quem é”, responde José Manuel Espírito Santo.

Recorde-se que houve um sexto beneficiário no negócio dos submarinos em 2004. Ricardo Salgado rejeitou, no Parlamento, o envolvimento de políticos.

“Já disse que foi uma retribuição única ao nível do conselho superior em 2004. A carta de 2013 foi dirigida aos novos membros do conselho superior, na qual falamos desta operação. Uma retribuição única recebida pelo grupo.”

Perante a insistência do deputado socialista, Manuel Fernando Espírito Santo acrescenta apenas: “Essa carta é escrita aos novos membros para explicar essa remuneração extraordinária, porque o conselho superior não aufere qualquer tipo de remuneração”.

Manuel Fernando, Ricardo Salgado, José Manuel Espírito Santo, António Ricciardi e Mário Mosqueira do Amaral são os cinco membros que, no total, receberam cinco milhões de euros.

A Escom, que geria activos em Angola e usada na assessoria da aquisição de submarinos, seria vendida à Sonangol, confirmou o ex-chairman da Rioforte. O ex-responsável diz, mais uma vez, que não esteve envolvido no processo e desconhece as razões que impediram a venda de concretizar-se. 

Confiança em Salgado

"Nunca pus em causa a competência, a liderança e a gestão de Ricardo Salgado.", afirmou o ex-chairman da Rioforte, Manuel Fernando Espírito Santo na comissão parlamentar de inquérito à gestão BES. “Tínhamos plena confiança em Ricardo Salgado.”

Manuel Fernando Espírito Santo, antigo presidente da ES Resources, refere que subscreveu o protocolo apresentado por José Maria Ricciardi, em Outubro de 2013. O protocolo era, recorde-se, documento muito crítico da gestão do BES e através do qual José Maria Ricciardi pretendia implementar mudanças de governance no BES.

Porém, na reunião do conselho superior de 7 de Novembro, Manuel Fernando Espírito Santo acabou por dar o seu voto de confiança a Ricardo Salgado. Agora, explica que esse voto tinha duas condicionantes: “O início do processo de sucessão no GES e que se iniciasse um novo modelo de governance para o Grupo”.

Nesse fim-de-semana foram publicadas várias notícias, dando conta da guerra de estado entre os primos – Ricardo Salgado e Ricciardi. Manuel Fernando Espírito Santo intermediou novo encontro dos primos para resolução de divergências, tendo sido marcada nova reunião do conselho superior, no qual estavam representados os cinco clãs da família.

“Foi a primeira vez em que tivemos uma conversa aberta e franca sobre temas que incomodavam os membros do conselho superior”, explica o antigo administrador não executivo do BES. O BES Angola, a “liberalidade” de José Guilherme a Ricardo Salgado e o negócio da Escom foram os temas no centro das explicações de Salgado. 

Riscos analisados

O antigo administrador não executivo do BES confessou que tinha conhecimento do “elevado endividamento na ES Internacional”, mas garante que, tal como os restantes administradores, não tinha percepção que fosse “tão elevado como se veio a revelar no final de 2013”.

“Havia uma estratégia para vender activos não financeiros desde 2006”, assegurou, garantindo que a crise de 2008 “dificultou” a alienação.

“Todos os anos, tínhamos uma equipa técnica que acompanhava os grandes riscos dentro do GES, os limites impostos pelo Banco de Portugal e a exposição ao GES”, confessa.

O antigo administrador revelou aos deputados que foi ao Banco de Portugal três vezes. “A primeira foi para apresentar o plano de desalvancagem, onde foi lida uma carta por 
Dr. Ricardo Salgado ao governador e ao vice-governador.”

Questionado se o governador estaria disponível para aceitar o plano apresentado em Dezembro do ano passado, o ex-administrador responde: “Penso que o Banco de Portugal não estava muito contente com a situação”.

Parco em palavras, Manuel Fernando Espírito Santo rejeita fazer uma interpretação da receptividade do Banco de Portugal, mas acaba por assumir que a concretização do plano era inviável “por uma questão de tempo”. “Era praticamente impossível reduzir o passivo até ao final do ano.”

Manuel Fernando Espírito Santo assume que se comprometeu com a reestruturação do GES, confessando ter chegado a financiar-se fora do grupo. “Dei como hipoteca a minha casa” para ter participado com três milhões de euros no aumento de capital da ES Control, uma das holdings do grupo.

À semelhança do que fez Amílcar Morais Pires, antigo administrador financeiro do BES, Manuel Fernando Espírito Santo, especificou os pelouros sobre a sua alçada no GES. 

O antigo administrador da ESI referiu que era apenas um entre 16 administradores e garantiu que nunca participou na elaboração das contas. “Tive a minha actividade centrada na Rioforte. Nunca tive qualquer informação que as contas não reflectissem a realidade.”

sandra.a.simoes@sol.pt