RTP, serviço público e Casa dos Segredos

Se há dossiê em que o Governo PSD/CDS se viu obrigado a dar o dito por não dito e do qual sairá em 2015 irremediavelmente derrotado, esse dossiê é o da RTP, da sua falhada privatização e dos milhões de dinheiros públicos que continua a consumir.

E a pergunta a fazer é sempre a mesma: o que distingue o serviço público que nos oferece a RTP1 do serviço privado que nos é concedido pelas outras duas estações generalistas, a TVI e a SIC? Vejamos as várias grelhas de programação, nos seus blocos essenciais.

As manhãs da RTP1 são preenchidas com três horas (das 10h às 13h) do Agora Nós com a dupla Tânia Ribas de Oliveira/José Pedro Vasconcelos, um espaço dirigido maioritariamente às donas de casa, que é difícil diferenciar das mesmas três horas das Queridas Manhãs da SIC com a dupla Júlia Pinheiro/João Paulo Rodrigues ou do equivalente Você na TVI com a dupla Cristina Ferreira/Manuel Luís Goucha.

Depois da hora do almoço, o canal 1 da RTP oferece-nos três horas e meia do Há Tarde, um formato de entretenimento levezinho e idêntico às mais de três horas do Grande Tarde da SIC ou do A Tarde é Sua da TVI.

À noite, no chamado prime time, a RTP1 já aposta tudo na estratégia das telenovelas,. E dá-nos Bem-Vindos a Beirais e Água de Mar, em confronto directo com as três novelas seguidas da SIC e uma da TVI (ou duas ou três… quando não há reality show).

As tardes dos domingos da RTP1 são enchumaçadas com cinco horas e meia seguidas do popularucho Aqui Há Portugal, que compete com as seis horas do Somos Portugal na TVI ou as mesmíssimas seis horas do Portugal em Festa na SIC.

Acresce que também o alinhamento e as opções editoriais do Telejornal da RTP1 são demasiado semelhantes aos do Jornal das 8 ou do Jornal da Noite da SIC. E até a RTP-Informação se tornou uma cópia de pior qualidade da SIC-N ou da TVI24, enchendo as noites com intermináveis algazarras sobre futebol.

A culminar tudo isto, a RTP1, tal como a SIC ou a TVI, também faz agora de casa de apostas semiclandestina com o escandaloso convite aos telefonemas de valor acrescentado (60 cêntimos+IVA) para os 760… qualquer coisa. Ao juntar-se a esta nova raça de índios chupistas, a RTP perdeu qualquer espécie de vergonha.

Se as manhãs, tardes, noites e fins-de-semana da RTP1 são praticamente idênticos aos da SIC e TVI, o que distingue, então, o celebérrimo serviço público?

Só resta uma resposta: a RTP1 não passa reality shows e programas abjectos como a Casa dos Segredos e outros que tal. É verdade.  Mas  convenhamos  que  é  pouco  para  definir um serviço público. E demasiado caro. Tal serviço não justifica os 140 milhões de euros por ano que todos pagamos à RTP, dissimulados nas facturas de electricidade.

jal@sol.pt