O chefe de Estado

Desde aquela noite feliz em que Jorge Bergoglio apareceu à varanda do Vaticano com o nome Francisco que o Papa não parou de nos surpreender.

Não se resumiu a declarações de intenções, gestos ou abordagens a problemas que estavam a causar estragos na Igreja Católica, como os escândalos da pedofilia. Foi também a sua intervenção ecuménica além das fronteiras religiosas, como a sua severidade perante a imoralidade financeira que nos obrigou a pensar no modo como vivemos. Na semana passada, uma vez mais, o Papa interveio activamente na histórica aproximação entre Cuba e os Estados Unidos da América. As consequências desta mudança na América dita hispânica estão longe de ser menores. Muitos governos sul-americanos terão de procurar outros demónios para perseguir se não quiserem ficar do lado de fora da História. É certo que a partir de agora, sempre que se referirem ao Papa como chefe de Estado do Vaticano, estarão a chamar o Papa pelo seu nome.

Sinal de inteligência

Um artigo de Melissa Dahl na New York Magazine alerta para uma novidade no que respeita àquelas pessoas que passam as suas vidas preocupadas com tudo: a preocupação pode ser um sinal de inteligência. Há vários estudos que relacionam a ansiedade com a inteligência, mas que não estabelecem uma relação de causa e efeito entre as duas coisas. Parece uma mera questão de bom senso que a preocupação esteja associada à inteligência, pois só uma mente ocupada pode ser inquieta e estar uma busca constante por respostas.

Um estudo recente ajudou a fortalecer esta teoria. Pessoas com uma maior inteligência verbal são capazes de descrever eventos passados e presentes, enquanto aqueles dotados de uma inteligência não verbal precisam de se socorrer da memória quando são confrontados com um problema. Se por um lado ser inteligente é melhor, por outro ser menos inteligente traz as vantagens do sossego. Não sejamos duros com os que não se preocupam tanto.

Crime na catedral

No blogue da NYRB, Martin Filler narra a surpresa que teve quando passados trinta anos visitou a Catedral de Chartres. Quando entrou, no meio de uma missa com nuvens de incenso e música de órgão, sentiu que havia alguma coisa estranha. Foi a mulher, Rosemarie Haag Bletter, historiadora de arte, que desvendou o mistério.

A catedral estava a ser restaurada. O fundo da nave pintado de branco, as colunas outrora austeras também estavam coloridas, a imitar um mármore que nunca existiu. As sacrílegas luzes artificiais realçam o horror de um brilho que nada tem de medieval nem de majestoso. Não sabemos qual era a cor original mas de certeza não era aquela. O mau gosto profanou um local que Filler considerava “um paraíso na terra”. Em 2009, o Ministério da Cultura francês deu início ao restauro que acabará em 2017. O valor gasto? 18,5 milhões de dólares. É sinistro que também em França o património esteja nas mãos de patos bravos e oportunistas. 

Viva Madonna

Há tempo que não ouvíamos falar de Madonna, até que no início do mês fomos surpreendidos com uma entrevista acompanhada de fotografias em topless na revista Interview. Só Camille Paglia e pessoas que comentam nas caixas de comentários dos jornais tomaram as imagens por aquilo que não eram: um fim em si mesmo, exibicionista e estéril, de afirmação de uma mulher com 56 anos.

Por mim, prefiro que Madonna se dispa a que nos tente impingir ideias falsas sobre a guerra ou o ambiente. Sempre me pareceu que seria mais eficaz no sexo do que na política e fico feliz por ver que regressa a interesses mais nobres. É evidente que as imagens e a entrevista tinham um propósito comercial, de ressurgimento tranquilo que culminaria no lançamento de uma faixa do novo álbum, Rebel at Heart, no dia de São Valentim. Mas a divulgação prematura de alguns temas obrigou Madonna a divulgar seis faixas (todas excelentes) do álbum. Peço desculpa, mas agradeço aos piratas.

Para crianças?

Um artigo recente na revista The Atlantic veio confirmar uma impressão que me tinha ficado desde que vi o Tarzan com um rapaz de quatro anos, que ficou aflito com a morte dos pais do protagonista.

A aflição da criança continuou quando percebeu que os novos pais eram ameaçados por outros animais ferozes. Um filme de terror!

Pela minha parte, achei que a necessidade de Tarzan se transformar no que não era para ser aceite pelo pai adoptivo e pela comunidade de gorilas contrariava o que penso ser uma educação saudável de uma pessoa autónoma.

O artigo refere precisamente a existência de demasiadas mortes de personagens importantes, como os pais dos protagonistas em filmes como À Procura de Nemo, O Rei Leão,  Bambi ou Tarzan, em contraponto com os filmes para adultos, onde os protagonistas morrem, mas sobretudo no fim do filme. Para quê quer mostrar às crianças muito pequenas que os pais morrem? Para lhes mostrar como os filhos sobrevivem sem eles?