Ano negro da aviação

Houve 1.327 mortos em 113 acidentes de aviação em 2014 – o mais mortífero ocorreu a 17 de Julho, no Leste da Ucrânia, quando um avião da Malaysia Airlines foi abatido: as 298 pessoas a bordo morreram. A companhia malaia já tinha perdido (e continua desaparecido) um aparelho em Março, algures no Índico, com 239…

Ano negro da aviação

Os dados são do Gabinete de Arquivos de Acidentes de Avião, organização com sede em Genebra que compila acidentes de aeronaves com capacidade para transportar pelo menos seis passageiros (além da tripulação).
Desde 1918, o também chamado B3A registou mais de 22 mil acidentes e para cima de 138 mil mortos. O ano mais letal foi 1972: 3.346 mortos em 332 acidentes.

Os 113 desastres aéreos de 2014 estão próximos dos 111 ocorridos em 1927 – mas esse longínquo ano registou 'apenas' 107 mortos.

Já em relação ao ano passado, o número de pessoas que perderam a vida em 2014 quase triplicou – o que contraria uma tendência decrescente da última década: é preciso recuar até 2005 para haver mais mortos: 1.463.

Uma sombra no mar

O voo QZ8501 descolou na manhã de domingo de Surabaya, Indonésia, em direcção a Singapura. Cerca de 40 minutos após a partida, os pilotos pediram para ganhar altitude – havia uma tempestade na rota. Mas os controladores aéreos não deram de imediato o OK. Pouco depois o airbus da Air Asia desaparecia dos radares, sem ter emitido um SOS.

As buscas iniciaram-se ainda no domingo, abrangendo a zona correspondente ao último contacto. Meios aéreos e marítimos, com as bandeiras de Indonésia, Malásia, Singapura, Austrália, Coreia do Sul, EUA, China, Nova Zelândia e França, uniram-se nas buscas ao avião da companhia low-cost. A maioria dos 162 ocupantes eram indonésios, entre os 155 passageiros havia 17 crianças e um bebé.

Na terça foram avistados os primeiros destroços no mar de Java, ao largo da costa do Bornéu, a mais de 100 quilómetros das últimas coordenadas. Uma sombra, detectada visualmente, indicava a presença de um objecto de grandes dimensões a uma profundidade entre 30 e 50 metros – mas não tinha sido confirmado que fosse o avião desaparecido.

Na quarta-feira, com condições meteorológicas adversas (ventos fortes e ondas de três metros) que dificultaram as buscas, haviam sido recuperados dez corpos. Pelo menos um tinha a farda de hospedeira de bordo. Entre os relatos não confirmados, o de um cadáver com o colete salva-vidas. Apenas a análise às caixas negras vai permitir perceber o que falhou no voo QZ8501. Já enviados para hospitais indonésios, os restos mortais terão de ser identificados – e comparados com amostras de ADN dos familiares das vítimas.

Pesadelo tornado realidade

Tony Fernandes, o dono da companhia de aviação, tem recorrido ao Twitter tanto para dar informações sobre as buscas como para manifestar solidariedade para com os familiares e amigos dos passageiros e tripulantes. 
Após ter sido tornado público o desaparecimento do airbus, o empresário malaio já revelou temer que o seu “pior pesadelo” se tornasse realidade. 

Fernandes, nascido em Kuala Lumpur – filho de um indiano goês, que lhe deu o apelido luso, e de uma malaia oriunda de Malaca, com antepassados também portugueses – transformou a Air Asia numa história de sucesso na aviação comercial, quando comprou a empresa falida em 2001. Com o slogan 'Agora todos podem voar', tornou acessíveis as viagens à classe média, com voos de baixo custo. 

Ao contrário daqueles que geriram a crise do acidente do MH370, em Março – quando o avião da Malaysia Airlines que ligava as capitais malaia e chinesa se eclipsou dos radares -, que foram alvo de fortes críticas por parte de familiares dos passageiros e até de países envolvidos nas operações de busca pelas informações contraditórias (ou pela falta de comunicação), Tony Fernandes tem sido elogiado pela disponibilidade e pela proximidade reveladas: “Estamos preparados e não vamos fugir a nenhuma das nossas obrigações”, sublinhou o empresário depois de um encontro com o Presidente da Indonésia em Surabaya. 

ana.c.camara@sol.pt