António Costa contra exclusão do PCP do debate democrático

O secretário-geral do PS recusou hoje conceitos que excluem o PCP do debate democrático, salientou a representatividade dos comunistas na sociedade portuguesa e defendeu uma mudança não só de Governo, mas também de políticas.

António Costa contra exclusão do PCP do debate democrático

António Costa falava aos jornalistas no final de uma reunião com o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que decorreu na sede dos comunistas e que se prolongou por mais de uma hora e meia.

Acompanhado pelo líder parlamentar, Ferro Rodrigues, e pelo dirigente socialista Porfírio Silva, o líder socialista caracterizou a reunião como "franca", frisou que o objectivo eleitoral do PS é a maioria absoluta, insistiu na sua recusa do conceito de 'arco da governação' e procurou deixar uma garantia: "Não excluímos o PCP do debate democrático", declarou.

"A reunião decorreu de forma muito franca. Como sabemos há divergências entre os dois partidos, que são conhecidas, mas há também análises francas sobre o pensamento de cada força política relativamente às diferentes questões que se colocam ao país. Tratou-se de uma reunião de apresentação de cumprimentos e não sobre negociações", acentuou o secretário-geral do PS.

António Costa referiu que os portugueses conhecem bem o PS e o PCP "há muitas dezenas de anos e conhecem bem as diferenças" entre estas duas forças políticas.

"Para além das divergências, é importante que seja possível a existência de um relacionamento franco entre os partidos. Não há nenhuma razão para se aceitar conceitos como o de 'arco da governação', como se qualquer partido representado na Assembleia da República não tivesse idêntica legitimidade", declarou o secretário-geral do PS, repetindo uma mensagem que já tinha deixado na segunda-feira, no final de uma reunião com o Bloco de Esquerda.

António Costa salientou então a sua defesa de "um diálogo político construtivo" no país e sua recusa no sentido de "excluir o PCP do debate democrático".

"Nenhum partido pode ser excluído do debate democrático. Quem decide quem representa o povo português são os eleitores portugueses. Não são os partidos que têm o direito de se excluir uns aos outros", sustentou.

O secretário-geral do PS referiu depois que socialistas e comunistas partem para 2015 com os seus próprios objectivos eleitorais.

"Desejamos ganhar as eleições com maioria absoluta, é esse o cenário que trabalhamos e não em qualquer outro. Mas, repito, o PS não aceita limitações que algumas entidades ou forças políticas algumas vezes fazem com o recurso à figura do arco da governação, como se só existissem três partidos com o direito de participarem nas soluções do país. Essa é uma divisória que não aceitamos", disse.

Neste contexto, Costa frisou "o respeito integral pela legitimidade democrática do PCP, com as diferenças face ao PS que existem e que são evidentes para todos há pelo menos 40 anos".

Interrogado sobre divergências e convergências com o PCP registadas na reunião, António Costa recorreu ao humor: "Convergências porque eu e o secretário-geral do PCP somos ambos do Benfica; divergências porque na restante delegação do PS, tal como na do PCP, há elementos do Sporting".

Mais a sério, António Costa disse esperar que "todo o diálogo dê frutos, porque a democracia é por natureza o regime do compromisso – e compromisso não significa identidade".

"Há divergências que são importantes, até para que, democraticamente, os eleitores possam escolher. O que mais empobrece a democracia é a ideia de que não há alternativas", disse.

Mas António Costa foi ainda mais longe nesta ideia, salientando o papel do PCP na sociedade portuguesa.

"Consideramos o diálogo como o PCP como sendo da maior importância, porque reconhecemos o papel importante que o PCP desempenha na representação de muitos portugueses. Não aceitamos a exclusão de ninguém do debate democrático", acrescentou. 

Lusa/SOL