Professora portuguesa conta como acalmou alunos perto de Dammartin-en-Goële

Anabela Duarte, professora em Mitry-Maury, França, a 15 quilómetros de Dammartin-en-Goële, onde foram abatidos os suspeitos do ataque ao jornal Charlie Hebdo, contou que os seus alunos estavam nervosos sem entenderem as restritivas medidas de segurança.

Professora portuguesa conta como acalmou alunos perto de Dammartin-en-Goële

A professora de francês tinha alunos da localidade cercada pelas autoridades francesas e teve de gerir a situação "calmamente", ao longo do dia, "apesar de não ter muitas informações" até porque o uso do telemóvel é proibido nas escolas.

"Os alunos queriam ir para casa. Começaram logo a perguntar: "Professora, mas vamos ficar até quando?", relatou.

Em declarações à Lusa por telefone, Anabela Duarte contou: "Explicámos com muita calma dizendo: 'Por razões de segurança enquanto as coisas não estiverem resolvidas ficarão aqui. Disseram 'Não queremos'. E depois nós acalmámo-los e dissemos 'ninguém quer, mas é por questões de segurança e nós aqui estamos em segurança'".

Foi no recreio das 10h00 locais (09h00 em Lisboa) que Anabela Duarte recebeu "instruções para não deixar sair os alunos na hora do almoço por questões de segurança" e os alunos tiveram mesmo de aguardar até essa hora.

Em vez de os transferir "por tempo indeterminado" para o ginásio que deveria receber durante a tarde todos os estudantes de Dammartin-en-Goële, a professora portuguesa conseguiu "encontrar pessoas conhecidas dos familiares que foram buscar os alunos".

"Inicialmente não sabíamos se havíamos de dizer e percebemos que era melhor explicar, mas não explicámos os pormenores porque também não os tínhamos", descreveu a professora, sublinhando que, apesar de proibido, "é muito fácil um aluno ligar o telemóvel e tentar perceber o que se está a passar".

O final das aulas de Anabela coincidiu com o fim do cerco ao local onde se refugiaram e acabaram por ser abatidos os irmãos Saïd e Charif Kouachi, apontados pelas autoridades francesas como os autores do atentado ao semanário satírico francês Charlie Hebdo, na quarta-feira.

França registou, desde quarta-feira, três incidentes violentos, que começaram com o atentado à sede do jornal Charlie Hebdo, em Paris, provocando 12 mortos (10 jornalistas e cartoonistas e dois polícias) e 11 feridos.

Na quinta-feira, foi morta uma agente da polícia municipal, a sul de Paris, e fontes policiais estabeleceram já "uma conexão" entre os dois 'jihadistas' suspeitos do atentado ao Charlie Hebdo e o presumível assassino.

Também hoje, ao fim da manhã, pelo menos quatro pessoas foram mortas numa loja 'kosher' (judaica) do leste de Paris, numa tomada de reféns, incluindo o autor do sequestro, que foi igualmente morto durante a operação policial.

Fontes policiais citadas pelos 'media' franceses dizem que este homem é provavelmente o mesmo que matou a polícia municipal.

Lusa/SOL