Restrições à imigração prejudicam a ciência, adverte Nobel

O britânico de origem americana John O’Keefe, um dos laureados com o Nobel da Medicina deste ano, adverte o governo de David Cameron: as planeadas restrições à imigração em estudo pelo executivo podem pôr o desenvolvimento da ciência em xeque. 

Em declarações à BBC Online, O’Keefe referiu que a ciência é, na actualidade, um dos sectores que mais depende da mobilidade dos seus intervenientes, sejam quais forem as nacionalidades em causa. “As regras da imigração são um grande obstáculo à contratação dos melhores cientistas”, disse, frisando que nem sempre estes se encontram em solo nacional. Além disso, são muitas vezes os especialistas estrangeiros que passam conhecimento fundamental aos cientistas nacionais. “A ciência é internacional e os melhores cientistas podem vir de qualquer parte”, sublinhou.

O’Keefe, que há anos faz investigação no University College de Londres, recebeu o prémio pelo seu contributo ao que se chamou o ‘GPS do cérebro’ a partir de experiências em ratinhos de laboratório. E apanhou a boleia desta entrevista à rede pública britânica para denunciar outra dificuldade para o progresso, sobretudo na área da biologia e da medicina, a das fortes restrições à experimentação com animais.

Na Grã-Bretanha, o assunto é particularmente sensível. Alguns laboratórios foram vandalizados por fazerem testes em animais, algo indispensável á investigação sobre doenças e tratamentos, por exemplo. Mas, ao contrário do que se pensa, estas experiências não são feitas sem controlo – os animais testados são restringidos em número e não são propriamente capturados na natureza. Mas, frisa, “o debate sobre esta questão está hoje num ponto mais saudável no Reino Unido”.   

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