O dentinho da Madeira

O convite era apetecível, já que assistir ao fogo de artifício de final de ano na Madeira é um espectáculo que não devemos perder – merece ser visto pelo menos uma vez. E assim aceitei viajar na véspera da passagem de ano, apesar das confusões que, supostamente, me esperavam. Mas no aeroporto havia tranquilidade e…

Para quem anda um ano inteiro numa agitação permanente, o que não quer é mais stresse. Chegados ao Funchal, e depois de uma vernissage, decidimos fazer uma pequena incursão pelos bares locais. Começámos numa rua onde há dois ou três seguidos, mas a animação não fazia parte da ementa nessa noite. Ainda fomos até ao Café Teatro e aí as coisas estavam mais animadas. Uma banda ao vivo ia puxando pelos convivas, num espaço bastante agradável e já a saber a festa. 

Depois rumámos até ao complexo das Vespas, que integra três espaços distintos, embora com ligações entre eles nalgumas noites. No primeiro, o Marginal, o house forte tenta convencer um público mais maduro a misturar-se com os mais novos; no segundo, o Jam, é a música puramente comercial que dita leis, notando-se cada vez mais a influência das kizombas. A pista das Vespas, nessa noite, estava encerrada.
Como a festa grande era no dia seguinte, acabámos por nos retirar em boa ordem e em boa hora. No dia 31 tive então a oportunidade de conhecer a verdeira instituição madeirense que dá pelo nome de Venda Velha, onde bebi umas ponchas muito saborosas – a de pitanga foi a que me soube melhor. 

Antes dos festejos da Passagem de Ano ainda tive contacto com outro mimo funchalense: o dentinho. Junto à Igreja do Monte, e onde os turistas não perdem uma descida nos carros de cesto, entrei num café simpático e pedi uma imperial. Como o almoço já tinha ficado para trás há algum tempo, olhei para a montra e encantei-me com umas coxinhas de frango.

O empregado, simpático, espetou um palito no pedaço de frango e entregou-mo. “Gostou do dentinho?”, perguntou-me. Gostei muito, tanto que repeti e fiquei a saber que os dentinhos ali são como os tremoços em Lisboa, não se pagam. A Madeira, além de bonita, tem graça.

vitor.rainho@sol.pt