Registos (I)

1. Carreiras especiais. O argumento para criar carreiras especiais em certos serviços da administração pública é claro e razoável: é preciso atrair e reter quadros bem preparados sem os quais o Estado ficará mais frágil, incapaz de cumprirem as suas funções e mais facilmente capturável por interesses particulares. A decapitação da administração pública vem de…

2. Multiculturalismo. João Miguel Tavares escreveu no jornal Público do dia 15 a crónica que eu gostaria de ter escrito sobre as reações tipo «pois sim…mas olhem que…» aos atentados de Paris. Vindas de ícones pós-modernos que, estou seguro, acham que a lei da gravidade é uma convenção social, não espantam. Só faltou dizer uma coisa. Claro que as caricaturas são ofensivas para os crentes no Islão e que todos as condenam. Como ofensivas foram as caricaturas de São João Paulo II com um preservativo no nariz.  Mas isso não significa que o assassinato dos ofensores seja a punição desejada pela maioria dos muçulmanos.   Quem justifica a punição radical  com a seriedade da ofensa está a fazer  todos os crentes no Islão coniventes com o crime. Ou seja, criminosos potenciais. Não creio que o sejam.

3.A propósito da Grécia. Um homem sábio a quem o país muito deve explicou a situação grega como sendo análoga à de um jantar de amigos em que um deles tem por hábito pedir um vinho estupidamente caro para, depois, dividir a conta por todos. Não há claramente amizade, ou pelo menos jantares de amigos, que resistam. Ou se acabam os jantares ou então chega-se a um compromisso entre a solidariedade – em que todos contribuem para que se beba o bom vinho escolhido pelo conviva apreciador -, e responsabilidade – o amigo conhecedor escolhe um vinho bom mas com um preço razoável.

4. Ter o bolo e comê-lo? Eis o que me lembram algumas da cláusulas que vieram a público do caderno de encargos para a privatização da TAP. O caderno impõe restrições aos futuros proprietários que vão muito para além do posicionamento estratégica da empresa. Antes,  entra em matérias de gestão corrente, tais como a proibição de despedimentos colectivos, a manutenção de acordos de empresa e a consulta obrigatória aos trabalhadores em todas as decisões de impacto estratégico. Isto pode gerar selecção adversa: um interessado  sério certamente oferecerá menos pela companhia; e, quem não ajustar a valorização provavelmente não pensará em cumprir os acordos. Mas pode também viabilizar política e socialmente a imprescindível privatização.