Moradores não sentem efeitos de redução de horários dos bares em Lisboa

Moradores do Cais do Sodré e em Santos, Lisboa, dizem não sentir ainda melhorias decorrentes da redução de horários dos bares estabelecida pela Câmara, mas alguns proprietários dos espaços já falam em perdas de facturação de 30%.

Moradores não sentem efeitos de redução de horários dos bares em Lisboa

Desde a passada sexta-feira que os bares do Cais do Sodré, de Santos e da Bica passaram a fechar às 02h00 nos dias úteis e às 03h00 ao fim de semana, enquanto podiam funcionar até às 04h00, devido à entrada em vigor de um despacho da Câmara de Lisboa.

"No Cais do Sodré disseram-me que não tinha mudado rigorosamente nada", já que "os bares fecharam mais cedo, mas as pessoas ficaram na rua", afirmou hoje à Lusa Isabel Sá da Bandeira, do movimento Aqui Mora Gente, que agrega residentes no Cais e em Santos.

Já "no jardim de Santos continuou a bagunça do costume, mas no largo os bares fecharam a horas decentes", acrescentou a responsável, admitindo que "ainda é muito cedo para se ver" as melhorias.

O despacho do município prevê também que os bares não vendam bebidas para fora a partir da 01h00, de forma a diminuir o ruído, que é a principal queixa dos moradores.

No caso dos bares de pequenas dimensões, que dependem da venda para o exterior, já houve uma "redução na factura na ordem dos 20 a 30%", especificou o proprietário Miguel Gonçalves.

O também representante do movimento Lisboa Com Vida, que junta bares com capacidade para 15 a 20 pessoas, referiu que no verão a quebra esperada é de 70%, altura em que as pessoas saem mais e "querem é estar na rua".

No fim-de-semana passado, alguns destes bares realizaram uma acção satírica para assinalar 'fora de jogo' aos clientes que levassem copos para a rua após à 01h00, o que facilitou a compreensão dos clientes, embora alguns não tenham gostado, adiantou o proprietário.

Caso a limitação de venda para a rua após a 01h00 não seja cumprida, o estabelecimento poderá ser penalizado com a redução temporária do horário de encerramento para as 23h00 todos os dias, o que Miguel Gonçalves quer evitar devido às "consequências letais" que poderia ter no negócio.

Gonçalo Riscado, da Associação do Cais do Sodré, que agrega estabelecimentos de maiores dimensões, sublinhou que "a medida teve um impacto enorme", levando à diminuição dos "copos de plástico e [da] sujidade" nas ruas.

Mostrando-se a favor do despacho, defendeu que "o grande desafio é ter pessoas mais cedo" no Cais do Sodré, através da criação de iniciativas culturais e lúdicas.

As lojas de conveniência também são afectadas, tendo de encerrar no máximo às 22h00, quando antes podiam estar abertas até às 02h00, medida que, à semelhança das anteriores, pode ser contestadas nos três primeiros meses.

Foi o que fez Master Ilas Ali, dono de uma loja na Rua de São Paulo que avançou com uma providência cautelar, a 21 de Janeiro, no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa, alegando que vai ter prejuízos por encerrar mais cedo.

Contudo, a autarquia argumentou que seria "uma grave lesão de interesse público" suspender o despacho, decisão que a advogada do proprietário, Carla Lencastre, contestou, aguardando-se ainda a uma decisão.

A advogada informou ainda ter conhecimento de outros proprietários de lojas de conveniência e até de bares que tencionam fazer o mesmo.

Lusa/SOL