Separatistas ucranianos preparam ofensiva

A morte de pelo menos 60 pessoas no Leste da Ucrânia durante o fim-de-semana confirmou as previsões mais pessimistas após o colapso diplomático que se deu em Minsk no último dia de Janeiro: o Exército de Kiev e os separatistas do Leste preparam uma solução militar para um conflito que já roubou mais de 5…

Separatistas ucranianos preparam ofensiva

Os separatistas de Lugansk e Donetsk, que Kiev e os aliados ocidentais dizem serem apoiados pela Rússia, apresentaram-se nas negociações de Minsk com reivindicações de mais território no Leste da Ucrânia e recusaram-se a negociá-las com o interlocutor designado por Kiev. Leonid Kuchma, ex-Presidente ucraniano escolhido pelo actual Governo para liderar as negociações, foi rejeitado pelos rebeldes por se tratar de “um cidadão particular” e não um representante das instituições do Estado.

Ivica Dacic, ministro sérvio dos Negócios Estrangeiros, foi citado pela Radio Free Europe, no final do encontro, a criticar os rebeldes por “nem sequer estarem preparados para concretizar um cessar-fogo ou a retirada de armamento pesado”. O diplomata falava na condição de líder da delegação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que, tal como o Governo russo, participava na nova ronda negocial.

A confirmar a posição belicista, surgiu esta segunda-feira o líder da autoproclamada República Popular de Donetsk, Alexander Zakharchenko. Os rebeldes vão mobilizar 100 mil homens para combater o exército ucraniano, anunciou Zakharchenko explicando que se tratará de “uma força de reserva que definitivamente conseguirá resistir e atacar” o inimigo.

O líder do movimento separatista na maior cidade do Leste da Ucrânia acrescenta ainda que a “mobilização começará dentro de 11 dias”, numa declaração que já começou a ser lida como uma tentativa de “disfarçar a chegada de mais tropas russas”, como disse à BBC o jornalista Christopher Miller, que actualmente se encontra na cidade de Debaltseve, onde se têm intensificado os confrontos entre as duas partes.

A Rússia continua a negar qualquer assistência aos rebeldes ucranianos, apesar da convergência de posições. Dias antes do anúncio da mobilização militar – que tal como anunciara em Dezembro o jornalista ucraniano Roman Cheremskiy, libertado após meses de sequestro, mostra que os separatistas estão “estão claramente a ser treinados para uma ofensiva” –, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, acusara Kiev de “escolher a solução militar para terminar o conflito”.

Perante os crescentes sinais de que o conflito caminha para esse cenário, o Governo da Ucrânia poderá vir a contar com uma preciosa ajuda vinda do outro lado do Atlântico. Segundo o New York Times, o secretário de Estado John Kerry e o general Martin Dempsey, presidente do Estado-Maior das várias vertentes do exército norte-americano e principal conselheiro militar de Barack Obama, juntaram-se às vozes que em Washington já exigiam o fornecimento de armas letais ao exército ucraniano.

Desde o início da crise, o exército dos EUA tem abastecido os ucranianos com material não-letal, como coletes à prova de bala, óculos de visão nocturna e equipamento de engenharia. Mas parece crescer na capital norte-americana de ver um maior envolvimento no conflito, com um relatório da Brooking Institution a sugerir o investimento de três mil milhões de dólares em envio de armamento militar para a Ucrânia nos próximos três anos.

nuno.e.lima@sol.pt