Primaveras de pouca dura

Domingo, 25 de Janeiro, completaram-se quatro anos sobre as primeiras manifestações na Praça Tahrir, do Cairo, que levariam à queda do então Presidente e homem-forte do Egipto, Hosni Mubarak. Estas manifestações vinham no rasto dos acontecimentos na Tunísia, desencadeados pela auto-imolação de um jovem vendedor ambulante, desesperado com as condições de vida e a humilhação…

No Egipto, no ano anterior, também um jovem blogger fora agredido e morto à pancada pela polícia de Alexandria, tornando-se o símbolo e o mártir de culto da luta contra o Governo de Mubarak.

Mubarak abandonou o poder e o exército egípcio tomou conta da transição, mas, dias depois, começavam em Bengazi, na Cirenaica líbia, manifestações contra um outro ditador da região: Muhamad Kadhafi. E ainda que, ao contrário de Ben Ali e Mubarak, Kadhafi resistisse, a revolta de Bengazi seria o rastilho para outras cidades se levantarem contra a ditadura.

Kadhafi era uma personagem muito especial, entre o violento e o grotesco, um megalómano que se considerava o chefe escolhido dos árabes e da África, e a sua queda só seria possível depois da intervenção da NATO e da Liga Árabe. Os aviões inimigos bombardearam-lhe as tropas, permitindo que as colunas rebeldes conquistassem as cidades costeiras e tomassem Trípoli. Refugiado nos seus domínios, Kadhafi acabaria morto, com um filho, em grande violência.

Em Marrocos, a Primavera Árabe encontrou uma monarquia nacional, religiosa e reformista que se antecipou às manifestações de rua e propôs uma nova constituição, aprovada por referendo.

Na Argélia, o medo de um regresso à guerra civil manteve a calma, apesar de alguns casos de imolação pelo fogo entre manifestantes.

No Médio Oriente houve um princípio de revolta popular no Bahrein, uma ilha-sultanato governada por sunitas, mas com uma maioria xiita. Os sauditas enviaram tropas e a rebelião foi neutralizada. No Iémen, o Presidente Saleh acabou por ceder às pressões de rua e da oposição, mas nomeou o número dois para liderar a transição.

Na Síria, a Primavera Árabe deu lugar a uma longa, cruel e terrível guerra civil, uma das maiores catástrofes dos tempos modernos, que prossegue.

As Primaveras Árabes, que receberam tanto escrito entusiástico na Europa e nos Estados Unidos, não conseguiram introduzir um único regime constitucional e respeitador dos Direitos Humanos, sobretudo por falta de base social de apoio. A excepção talvez seja a Tunísia, um país pequeno e escassamente povoado que, depois de um governo de islamistas da  Ennahda, acabou por eleger para a Presidência da República um octogenário, antigo militante do partido Neo Destour de Bourguiba, e ex-presidente do Parlamento no tempo de Ben Ali.

De resto, as aspirações democráticas têm vindo a ser adiadas, por vontade expressa da maioria: o Egipto é de novo governado por um militar, a Líbia está caótica e os outros Estados para lá caminham, voltaram para onde estavam ou não mudaram.