Na kora estão todos os Diabaté

Sempre que um bebé Diabaté nasce, os primeiros brinquedos que recebe são uma kora, um djembê e um balafon. É o virtuoso da kora Toumani Diabaté que nos conta o pormenor ao telefone, revelando que o filho, Sidiki, começou a tocar o instrumento com apenas um ano de idade. “Só lhe dei uma aula na…

Parece estranho ou não fossem os Diabaté uma das famílias griot (contadores de histórias) mais aclamadas por transmitir de geração em geração a tradição musical da África Ocidental, mas o músico do Mali explica que se passou exactamente o mesmo consigo. “O meu pai também só me deu umas dicas. Mas quando se cresce no seio de uma família griot a música está na génese da tua identidade. Cresci a ouvir muitos mestres e a reproduzir, à minha maneira, esta tradição na kora”.

É por isso, acrescenta, que não há dois instrumentistas iguais entre os Diabaté. “Eu não toco da mesma forma que o meu pai e o meu filho não toca como eu. Cada um tem de descobrir a sua arte”, frisa, explicando que essa foi uma das razões porque quis gravar Toumani & Sidiki, o disco que editou no ano passado com o filho e que acabou nomeado para os Grammys, no domingo, na categoria de Melhor Álbum de World Music.

Sidiki, de 24 anos, representa a 72.ª geração de tocadores de kora na longa dinastia Diabaté e Toumani quis “partilhar com o mundo a nova técnica” de tocar a 'harpa africana' do filho. Isso não significa temas novos (só há um original no álbum, 'Lampedusa'), mas sim interpretar canções enraizadas na tradição griot que, de outra forma, poderiam perder-se. “A ideia do disco é 'o passado conhece o presente para projectar o futuro'“, comenta.

O concerto de hoje à noite, na Culturgest, em Lisboa, será por isso um momento único de partilha onde, mais do que pai e filho, dois instrumentistas nos contam a história milenar de um povo, unindo tradição com modernidade. E essa união é preciosa para Toumani. Em Portugal já o vimos actuar com Björk, no Festival Sudoeste 2008, ou Arnaldo Antunes, em 2012, com o projecto A Curva da Cintura. São igualmente conhecidas as suas colaborações com Damon Albarn, com o americano Taj Mahal ou os conterrâneos Ali Farka Touré e Salif Keïta. Mas nesse campo da mestiçagem ainda há desejos por cumprir. “Adoraria trabalhar com um grande talento do fado. Interessam-me músicas como a minha, que contam tradições e vêm do coração”. Alguém se candidata?

alexandra.ho@sol.pt