A Igreja de Lisboa aos olhos dos não crentes

O mote foi dado pelo Papa Francisco quando convocou um Sínodo sobre a família mas antes lançou um questionário aos católicos para saber o que pensavam sobre o assunto. Manuel Clemente replicou este modelo: lançou um Sínodo Diocesano e convidou os católicos de Lisboa a reflectirem sobre o futuro da sua Igreja. Mas será que…

Na opinião de António Marujo e Jorge Wemans não. Por isso, os dois jornalistas lançaram o projecto “Escutar a Cidade”, uma iniciativa que coloca personalidades fora da Igreja a reflectir sobre as grandes questões da sociedade e a sugerir o que esperam das comunidades cristãs da cidade.

O segundo encontro deste projecto será amanhã e, sob o tema “Política, participação e democracia”, ouvirá pessoas ligadas à política e filosofia, como Ana Drago ou Viriato Soromenho-Marques. Começará às 19.00 no Fórum Lisboa e a entrada é livre. Além destes temas, e ao longo de encontros mensais que decorrerão até Junho, serão abordadas questões como a pobreza, desemprego, questões sociais, cultura, pertenças territoriais e identitárias, novos estilos de vida e novos tipos de relações. “Pensámos quais seriam as grandes áreas de reflexão em que devíamos ser levados a pensar”, explicou ao SOL, António Marujo, um dos promotores do projecto.

O convite do projecto “Escutar a Cidade” é dirigido aos próprios católicos para que “se deixem interrogar por pessoas que, vivendo no mesmo tecido social, mas não partilhando a condição de pertença eclesial, enunciem uma reflexão pertinente sobre aspectos decisivos da sociedade, da economia, da cultura e dos modos de vida que marcam o território da diocese”. E assume-se como uma resposta ao apelo deixado pelo Papa aos crentes e que consta na Exortação Apostólica Evangelli Guadium: ir às periferias anunciar a fé, ou seja, estar nas franjas e nas fronteiras, ensaiando novas formas de evangelização e de comunidade.

Ao escutar as vozes da cidade – e que não são as que integram os movimentos, paróquias e instituições da Igreja ­– o projecto pretende contribuir directamente para a reflexão levada a cabo no Sínodo da diocese. Os seus promotores comprometem-se a elaborar uma síntese final das reflexões suscitadas pelos encontros e a fazê-la chegar à Assembleia Sinodal. Contudo, a forma como isto vai ser feito ainda não está fechada, acrescenta António Marujo.

Sínodo Diocesano: um caminho até 2016

“O sonho missionário de chegar a todos” é o tema do Sínodo convocado pelo patriarca de Lisboa no ano passado e cuja reunião magna se realizará em Outubro de 2016. Até lá, os católicos de Lisboa, individualmente ou através de grupos organizados (catequeses, movimentos, instituições, congregações religiosas, famílias, entre outros) são chamados a analisar a Exortação Apostólica Evangelli Gaudium, escrita pelo Papa no ano passado, e a responder a uma série de perguntas. Como por exemplo: “Procuramos cuidar do próximo ou assumimos que é responsabilidade de outrem?”

A caminhada sinodal começou em Outubro de 2014 e está organizada em cinco etapas. Neste momento, a diocese está a debruçar-se sobre o tema “Na crise do compromisso comunitário”. Cada grupo envia depois para o secretariado do sínodo o resultado das suas reflexões. Estas serão compiladas e darão origem a um documento síntese que será analisado e debatido na Assembleia Sinodal, em Outubro de 2016, onde estarão os bispos de Lisboa e representantes de várias áreas e sensibilidades da diocese. As conclusões serão depois anunciadas pelo patriarca.

rita.carvalho@sol.pt