Swiss Leaks: Donas de casa superam monarcas

As verdadeiras repercussões do escândalo de fraude fiscal internacional Swiss Leaks  ainda estão por apurar. Mas, para já, os ficheiros divulgados pelo consórcio internacional de jornalistas permitem fazer análises estatísticas no mínimo curiosas: 7% dos clientes do HSBC eram donas de casa.

Os dados descodificam o esquema de privacidade utilizado no banco na Suíça, no qual se cruzam  monarcas com donas de casa, ambos alvo do mesmo tratamento bancário: acompanhamento prestige.

O universo de clientes apanhados no radar Swiss Leaks é transversal a várias áreas. Monarcas, políticos, desportistas, empresários, modelos, actores ou cantores têm esta semana o seu rosto em destaque na imprensa mundial. Abdullah II, rei da Jordânia, Alejandro Andrade, político venezuelano, Diego Forlán, jogador de futebol, Fernando Alonso, piloto espanhol, Elle Macpherson, modelo australiana, ou Emílio Botín, presidente do Santander falecido em Setembro, são alguns dos nomes.

O dado mais curioso é que uma significativa fatia do total de 106 mil clientes está desempregada, é estudante ou dona de casa. Cerca de 7.300 clientes ou 7% do total estavam identificados como sendo donas de casa, ao mesmo tempo que 4.000 titulares eram estudantes ou estavam sem emprego.

Na prática, os clientes abriam uma conta na filial suíça do HSBC em seu nome, que era depois substituído pela denominação de uma offshore, alterada posteriormente para um número. A gestão da conta pressupunha a troca de correspondência para um endereço pessoal  do cliente, ficando esse expediente arquivado fisicamente na Suíça. O envio de emails não era sequer uma opção. 

Os clientes podiam escolher entre manter contacto directamente com um gerente ou recorrer a um intermediário. O acesso à conta e aos fundos era realizado a partir do computador do cliente, que depois se deslocava à Suíça para fazer levantamentos ou gerir os activos. Os dados pessoais do cliente não tinham qualquer ligação às informações da conta, identificada pelo número offshore.

A filial suíça do banco garantiu entretanto que, desde 2007, já procedeu a profundas transformações nos seus procedimentos «para evitar que os seus serviços sejam utilizados para defraudar o fisco ou para lavagem de dinheiro».

sandra.a.simoes@sol.pt