A teoria do abanão

A primeira vez que ouvi falar do ‘abanão’ foi na RTP, pela boca de Morais Sarmento, há duas semanas. O comentador afecto ao PSD disse que a vitória do Syriza fora positiva, pois “a Europa estava a precisar de um abanão” que pusesse em causa “o pensamento único”. E atrás dele vieram muitos sociais-democratas e…

Ora isto é ver o filme completamente ao contrário.

Durante anos, houve vários países que começaram a desrespeitar escandalosamente os défices públicos, acumulando dívidas gigantescas. Para além da Grécia, temos os casos de Chipre, Itália, Espanha, Portugal, França, Irlanda…

A situação tendia a tornar-se insustentável, quando a Alemanha (e outros países do norte) disseram um rotundo “Não”. E a partir daí todos foram entrando mais ou menos nos eixos.

Com ou sem programas de resgate, os países foram reduzindo os défices públicos e pondo as contas em ordem. Mesmo a Grécia, com Samaras, parecia ter encarrilado e encaminhava-se para cumprir o memorando da troika.

Eis senão quando um partido chamado Syriza promete o que não pode cumprir – e ganha as eleições gregas.

De facto foi um abanão.

Mas foi um ‘abanão mau’ – ou seja, no sentido de não cumprir as regras – numa altura em que o ‘abanão bom’ já estava a fazer efeito e todos começavam a equilibrar as contas públicas e a regular melhor as contas externas. 

Por isso, os defensores do ‘abanão’ enganam-se rotundamente. O ‘abanão’ foi afinal um ‘contra-abanão’ – que veio pôr tudo em causa, incluindo a própria Zona Euro. Porque não pode existir uma comunidade de países com a mesma moeda se cada um começar a fazer o que quer e a dizer que não cumpre as regras. Ou não será isto evidente?

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