Óscares 2015. ‘Glória! Aleluia!’ Um bom filme com o toque de Oprah

“One day, when the glory comes It will be ours, it will be ours”

Óscares 2015. ‘Glória! Aleluia!’ Um bom filme com o toque de Oprah

Realizado por Ava DuVernay (o seu primeiro grande trabalho enquanto realizadora), a obra retrata as manifestações em Selma, no Alabama, pelo direito de voto por parte da população negra, em 1964. Martin Luther King Jr. (interpretado por David Oyelowo) tinha acabado de ganhar o Prémio Nobel da Paz e decide intervir e organizar uma marcha pacífica até à câmara do Alabama. 

As imagens de violência durante a primeira marcha correram o mundo e milhares de pessoas condenaram o acto da comunidade branca e da polícia daquele estado norte-americano. Pelo meio, o Presidente dos EUA Lyndon Johnson mostrava-se indeciso quanto a uma tomada de posição, não querendo ceder aos pedidos de Martin Luther King mas, ao mesmo tempo, tentando manter a paz no seu país – já bastava a guerra do Vietname, que tinha começado nove anos antes.

Produzido por Christian Colson, Dede Gardner, Jeremy Kleiner e Oprah Winfrey (que também entra no filme como actriz secundária), ‘Selma’ é uma autêntica aula de História. Fornece uma boa visão de como vivia a população negra durante a segregação, qual a postura dos órgãos governamentais e do povo norte-americano – tanto os defensores da universalidade de direitos, como os que se encaravam como sendo superiores à raça negra – e também da forma como Martin Luther King Jr. organizava as suas campanhas e mobilizava uma comunidade inteira, tentando manter uma vida pessoal relativamente normal ao mesmo tempo.

Alguns críticos apontam algumas incoerências históricas: Uns afirmam que Lyndon Johnson – interpretado por Tom Wilkinson – é representado neste filme como um opositor à mudança e que o governador do Alabama George Wallace – papel desempenhado por Tim Roth – é apresentado como um homem muito mais ‘simpático’ e pacífico que o verdadeiro governante. Mesmo que tais falhas possam ser comprovadas através de documentos históricos, a verdade é que o final do filme retrata exactamente o que aconteceu – Lyndon Johnson criou a legislação da ‘Grande Sociedade’, que confirmava, entre outros pontos, os direitos civis dos negros nos EUA.

Podíamos pensar que este é apenas mais um filme que retrata a vida de Martin Luther King Jr. A verdade é que esse é um dos pontos do filme, mas obra não se apoia apenas nisto. Afinal, nada pode ser feito apenas com uma pessoa. Foi necessário o apoio de toda uma comunidade por detrás de King para que algo pudesse ser feito. E, apesar de haver um grande foco nesta figura histórica, é essa a mensagem que o filme passa – Basta ver alguns pormenores, como a cena em que o grupo de King é recebido em casa de uma mulher afro-americana para almoçar e organizar os planos da manifestação ou, mais impressionante ainda, a determinação do povo de Selma em marchar pela primeira vez sem o seu líder na frente.

Ava DuVernay disse em entrevista ao programa ’60 Minutos’ que “não estava interessada em fazer um filme no qual o branco é o salvador. Queria colocar as pessoas negras no centro das suas próprias vidas, sem a necessidade de serem salvos por quem quer que seja”. No entanto, o filme não se foca apenas na coragem e determinação do povo negro, mas também no apoio dado pela comunidade branca, prestando homenagem a alguns cidadãos que morreram a lutar pela igualdade de direitos.

Se há necessidade em fazer ‘mais um filme’ sobre a segregação racial nos EUA? Claro que sim. Basta ver que a ponte onde o povo negro de Selma marchou continua hoje em dia com o nome Edmund Pettus, líder do Ku Klux Klan. São precisas mais justificações?..

Há quem diga que um filme que tem a mão de Oprah Winfrey está condenado à má crítica. Neste caso, só se pode citar o próprio Martin Luther King Jr.: “Glória! Aleluia!”. Este é o melhor filme produzido pela apresentadora norte-americana até à data. A nomeação para Melhor Filme é mais do que justa e a hipótese de ser o vencedor não está colocada de parte. A estatueta de Melhor Música Original tem mesmo de ir para John Legend – A música ‘Glory’ descreve melhor do que muitos planos o sofrimento e a determinação que se quer retratar no filme. Incrível é como David Oyelowo e Ava DuVernay não estão nomeados para Melhor Actor e Melhor Realizador, respectivamente. Duas grandes falhas nas nomeações deste ano.

joana.alves@sol.pt