PSD e CDS: (Im)possível ganhar as legislativas?

A maioria PSD/CDS não perdeu a esperança de ganhar as eleições de Setembro/Outubro. Apesar de a crise ter feito cair todos os governos europeus que nos últimos anos aplicaram medidas de austeridade, Passos e Portas estão agora mais confiantes numa vitória. 

PSD e CDS: (Im)possível ganhar as legislativas?

Animados pelos indicadores económicos após a saída com sucesso do programa de emergência da troika, pela curta vantagem do PS nas sondagens e por António Costa não conseguir marcar o debate político, sociais-democratas e centristas acreditam que, nos sete meses que faltam até às legislativas, vão conseguir convencer os eleitores a renovarem o seu voto na coligação.

A estratégia é provar que os sacrifícios exigidos aos portugueses não só eram necessários, como estão a dar resultados. E, mais do que isso, que agora é o tempo de mudar o ciclo económico e olhar para o futuro. Ainda no último jantar com o grupo parlamentar do CDS, Paulo Portas deixou um aviso aos deputados: “Não se pode falar só do passado e da troika, é preciso falar do futuro e apresentar propostas”.

No PSD, Luís Montenegro garante que “as hostes estão empenhadas e optimistas”. O líder da bancada social-democrata admite, porém, que ganhar eleições não será fácil. “Onde há programas de austeridade há uma impopularidade natural, que não é fácil de vencer”. Mas acredita que os portugueses saberão escolher entre “um caminho difícil, mas sustentável, e uma ilusão que nos trouxe à bancarrota”.

 “Agora, já temos boas notícias para dar às pessoas”, frisa um ministro. Aumento das exportações, descida do desemprego e dados da execução orçamental vão ser parte da mensagem política da maioria para as legislativas.
De resto, a maioria espera capitalizar as dificuldades que a Grécia está a enfrentar na negociação com o Eurogrupo e aproveitar a colagem de António Costa ao Syriza para demonstrar que não existia alternativa à austeridade. “Acaba com a ilusão de que havia outro caminho”, sublinha um vice-presidente de Passos. 

Grécia pode ajudar

Aliás, o PSD não vai deixar cair a tese do “conto de crianças” sobre as políticas de Tsipras. Isso mesmo ficou claro ontem na reacção ao acto de contrição de Jean-Claude Juncker – que pediu desculpa por a troika ter “pecado” contra a “dignidade” da Grécia, Portugal e Irlanda. “Nunca a dignidade foi beliscada quer pela troika quer por algumas das suas instituições”, afirmou Marques Guedes, no final do Conselho de Ministros, considerando “infelizes” as palavras do presidente da Comissão Europeia.

O facto de as sondagens apontarem, em regra, uma curta diferença entre a maioria e o PS é visto como sinal encorajador. “Estranho é que um Governo que teve de impor medidas de austeridade tão impopulares ainda esteja nestas condições”, comenta ao SOL outro membro do Executivo. Aliás, as sondagens internas dos dois partidos dão resultados mais favoráveis à maioria do que as publicadas na imprensa, fazendo com que uma vitória não pareça uma missão impossível. “PS e maioria surgem muito próximos”, revela um dirigente do CDS.

Os números são lidos por sociais-democratas e centristas como a prova de que António Costa não está a convencer os portugueses nem a corresponder às expectativas geradas pela forma como conquistou a liderança do PS a António José Seguro. “Para um líder da oposição que quer chegar ao poder, anda muito desaparecido. Devia andar todos os dias no terreno e aparece uma ou duas vezes por semana”, diz ao SOL um ministro.

PSD e CDS já em campanha

Das vezes que aparece, António Costa também não tem dado motivos à maioria para grandes nervosismos. “Andava desaparecido há dias. Quando apareceu, foi para dizer que vai repor o feriado do Carnaval. O caminho é sempre pela via do facilitismo”, aponta um membro da equipa de Passos.

Nas direcções dos dois partidos, o adiar do anúncio da renovação da coligação também não é visto como uma desvantagem. “A partir do momento em que isso seja formalizado, os dois [Passos e Portas] passam a ser vistos como candidatos e não como primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro”, sustenta uma fonte da direcção social-democrata.

“As máquinas de campanha estão bem oleadas. Basta carregar num botão”, assegura uma fonte do PSD, desvalorizando o facto de ainda não se saber se os dois partidos vão ou não juntos a eleições.

Para todos os efeitos, a campanha já começou e nem Passos nem Portas estão a descurar os respectivos partidos. “Os dois estão com uma agenda partidária intensa, com deslocações pelo país e jantares com militantes”, aponta um vice do CDS, explicando que os dois partidos estão concertados neste arranque de pré-campanha. As jornadas conjuntas do investimento que ontem começaram são um sinal disso mesmo. “No final, os votos que agora se conseguirem serão sempre somados”, diz o dirigente centrista que já não tem dúvidas de que a coligação será anunciada em Abril.

margarida.davim@sol.pt e sofia.rainho@sol.pt