‘Os militares gostam de nós e nós gostamos deles’

Um passeio pelo centro da Praia da Vitória é  suficiente para perceber como a cidade se preparou ao longo das últimas décadas para servir os americanos. À entrada dos bares, os menus estão escritos em inglês. Na porta de um dos principais cafés da Rua de Jesus, a rua onde se concentra mais comércio tradicional,…

‘Os militares gostam de nós e nós gostamos deles’

Por altura das touradas à corda, que quase fazem parar a ilha entre Maio e Outubro, não é raro ver militares na rua para assistirem à largada de touros, integrada nas festas do Espírito Santo. “Os militares fazem muitas perguntas sobre os Açores, sobre as touradas e dão passeios pela ilha”, explica Maria Silva, 57 anos, dona do bar à entrada da Base Aérea N.º4, da Força Aérea Portuguesa, onde tantas vezes serve uma “meia de leite” aos militares.
José Lourenço, director do Diário Insular, lembra que ao longo dos anos “sempre houve uma disponibilidade de ambas as partes para acolher o que cada cultura tem para oferecer”. O jornalista chegou a integrar comitivas com representantes da região e da sociedade civil que viajavam aos EUA a convite do Pentágono. “Era uma forma deles estreitarem  laços com a região”.

A ilha Terceira é, das nove ilhas açorianas, aquela onde mais se fala inglês. Desde 1999 é palco de um dos mais conceituados festivais de jazz do país, o Angra Jazz, por influência americana. Um ano antes, em 1998, era fundado o Angrabasket, onde viriam a jogar profissionais americanos. 

Na zona ribeirinha da cidade, virada para o porto e para um extenso areal, os bares que se transformam em discotecas depois da meia-noite são palco de encontros entre açorianas e americanos. A noite está preparada para elas e para eles. Eles chegam de táxi. “Quando comecei [em 2010] na mesma noite chegava a ir cinco ou seis vezes à Base apanhar militares. Agora já não é assim”, garante Hugo Toste, 35 anos, que acaba de trazer um militar da Base, a cerca de sete minutos. A corrida valeu 10 euros.

Entre uma cerveja e uma kizomba, o amor acontece. Rita (nome fictício), 23 anos, descodifica. “Os militares gostam das açorianas, mas nós também gostamos deles”. Sobre a sua vida não fala. Perguntamos se alguma amiga já emigrou por causa de um militar. “Sim, algumas. A minha tia namora com um que já foi embora. Ela vai emigrar por causa dele. Nem todas podem. Muitas ficam a chorar na ilha”. 

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ricardo.rego@sol.pt