Turistas improváveis

Portugal está a captar novos mercados enquanto destino turístico. E há cada vez mais visitantes de países longínquos – e até improváveis – a conhecer os atractivos nacionais.

Turistas improváveis

O leque é variado, segundo dados solicitados pelo SOL ao Banco de Portugal relativos a 2014. As receitas deixadas no país por viajantes da Turquia dispararam, tal como as de turistas da Croácia e da Estónia. De África chegaram subidas consideráveis quantos às despesas de moçambicanos e de Cabo Verde.

Entre as regiões mais distantes, destaca-se ainda a evolução das receitas geradas por turistas indianos, dos Emirados Árabes Unidos (52%) e do Japão (41%). É certo que estes países representam valores absolutos baixos – não fazem parte dos 25 que mais contribuem para a receita turística nacional – mas alguns começam a ganhar peso.

“Estamos a detectar um fenómeno interessante que não era muito expectável. Boa parte dos nossos esforços de promoção, especialmente a presença nas redes sociais, estão a ter efeitos cruzados. Nalgumas zonas mais longínquas que não estão nos nossos targets e não fazem parte dos nossos mercados centrais, acabam por beneficiar de um efeito de passa-palavra, de contágio”, explica ao SOL o presidente do Turismo de Portugal (TP), João Cotrim Figueiredo. “Não sabemos ainda explicar bem. Estamos a estudar para perceber como podemos gerir isso de forma mais eficaz”, continua.

Subida recorde na década

Além da promoção externa sobretudo online, os preços convidativos face a outras paragens e a subida das ligações aéreas podem justificar estes crescimentos, tal como a emergência de classes médias e o maior rendimento disponível em alguns destes países. Mas também novos hábitos de viajar e até alterações cambiais favoráveis.

Segundo os números divulgados esta semana pelo banco central relativos à balança de pagamentos de Viagens e Turismo, em 2014 os turistas estrangeiros deixaram em Portugal 10,4 mil milhões de euros. É o valor mais alto de sempre e equivale a uma subida de 12,4% face a 2013. Este é também o maior aumento da última década. Só em 2007 (face a 2006) houve crescimento a dois dígitos (10,9%). Nessa altura, o turismo valia 7,4 mil milhões de euros.

Tal como em 2012 e 2013, franceses – que lideram com 1,84 mil milhões de receitas geradas -, ingleses e espanhóis continuam a ser os que mais despesas fazem nas viagens a Portugal.  E todos tiveram aumentos acima de 10%, tal como a maioria dos mercados que tradicionalmente mais pesam na procura.

Entre os 25 países mais importantes quanto aos ganhos no turismo português, ainda assim, as maiores subidas foram protagonizadas pelos chineses, que deixaram no país mais 58% das receitas do que em 2013: 54 milhões de euros. Seguiram-se os australianos, belgas, suecos e irlandeses.

Portugueses viajam mais

No outro prato da balança, há a assinalar a redução de gastos da Venezuela (-48%), África do Sul (-30%), Brasil (-15%), Noruega (-12%) e EUA (-7%). O mercado brasileiro, que é um dos mais importantes para Portugal, teve comportamentos distintos ao longo do ano devido ao Mundial de Futebol, indica Cotrim Figueiredo. “Houve um impacto na globalidade do mercado brasileiro enquanto emissor de turistas – uma espécie de 'ressaca' pós-mundial”.

Naquele que é um ano de recordes no turismo nacional, também os portugueses viajaram mais. Tanto para o estrangeiro como para dentro de portas. Lá fora despenderam 3,3 mil milhões de euros, mais 6,4% do que em 2013. E na hotelaria nacional representaram 13,8 milhões de dormidas (+13%), invertendo o ciclo de quebras que existia desde 2011.

“Ao verem o seu país retratado na imprensa internacional e reconhecido com prémios internacionais, os portugueses acabam por redescobrir o seu próprio país”, indica o presidente do TP.

E será possível manter estes ritmos de crescimento? “Não creio que seja possível num sector consolidado e com esta dimensão crescer consistente e repetidamente mais de 10%. Mas, havendo essa oportunidade, vamos tentar. Queremos crescer cerca de 2% mais do que os nossos concorrentes”, antecipa.

ana.serafim@sol.pt