O ano de sonho do menino-prodígio do surf nacional

A paixão pelo mar começou a manifestar-se quando tinha seis anos e ia para a praia da Poça, no Estoril, onde os avós têm a concessão do bar da praia. Aos 19, Vasco Ribeiro entrou para a história do surf nacional, ao tornar-se o primeiro português a conquistar o título de campeão nacional, europeu e…

Vasquinho, como era conhecido em criança, começou por surfar com o pai nos tempos livres. Aos oito anos iniciou as aulas com dois treinadores – que ainda hoje o acompanham –  e em menos de dois anos já estava a participar em campeonatos.  “Na altura não pensava fazer disto carreira. Acho que foi uma coisa que foi acontecendo. Entrei em dois campeonatos, por acaso correram bem, e claro que a seguir às vitórias comecei a gostar mais”, revela.

Competição atrás de competição, e vitória atrás de vitória, a sua carreira foi ganhado forma. Aos 13 anos já participava em campeonatos internacionais. “Percebi que gostava daquela pressão e daquele nervosismo antes do início dos campeonatos. Juntei o útil ao agradável, a minha paixão pelo surf e a competição. E essa paixão continua tal como se eu ainda tivesse 13 anos”.

Vasco recorda-se bem do primeiro campeonato internacional em que participou, na Nova Zelândia. Tinha 14 anos e a prova correu melhor do que previa. “Ninguém estava à espera que chegasse tão longe. Na mesma altura, havia campeonatos na Austrália e eu pedi ao meu pai para ir, mas para isso teria de faltar às aulas”, conta o surfista. Os pais acabaram por aceder. “Quando se está dentro de água com pessoas que surfam bem, a nossa é evolução é muito maior. Torna-se um incentivo”.

Apesar da participação em competições por todo o mundo, Vasco mantém a sua base de treino em Portugal, para assim estar mais perto da família e dos amigos. Quer continuar sempre a ser “uma pessoa normal”: Ficar em casa permite-lhe estar mais relaxado nos momentos de pausa para depois, na altura das competições, se  focar totalmente nos objectivos.

O ano de 2014 começou da melhor maneira – com um bom resultado num campeonato australiano. Mas, em meados do ano, Vasco acabou por sofrer um revés imprevisto: perdeu o seu patrocinador de vários anos, a Quicksilver. Em que pode isso influenciar a carreira de um surfista? “Não é impossível fazer isto sem patrocínio, mas mas torna-se mais difícil. Eles dão-nos sempre um apoio incondicional”, explica o desportista. De facto, é o investimento monetário das empresas patrocinadoras que permite que os atletas possam participar em campeonatos no estrangeiro e além disso ter acesso a equipamento de qualidade.

Vasco, porém, decidiu usar este 'contratempo' como incentivo: “Foi aí que se deu o click. Deu-me uma motivação extra para mostrar que merecia ter um patrocínio”. A partir daí,  foi só somar vitórias.

Depois de três anos consecutivos no pódio, o surfista conseguiu conquistar o título de campeão europeu, nas Canárias, em finais de Setembro, 15 anos depois de Tiago Pires ter conseguido um feito semelhante. Seguiu-se o título de campeão Nacional,  na Praia do Guincho (Lisboa). E, em Outubro, a cereja no topo da onda: na Ericeira, tornou-se o primeiro português a conquistar o Mundial de Juniores. “Conheço muito bem a onda da praia de Ribeira d'Ilhas, sabia que tinha essa vantagem porque é uma onda muito difícil”, justifica. “Quando cheguei aos quartos-de-final, lembro-me de ter pensado: 'Agora é tudo ou nada'“.

Ainda estava dentro de água quando se apercebeu do seu feito. “É um momento que nunca hei-de esquecer, foi incrível ver todos os portugueses a gritarem lá fora”, recorda o surfista.

Os feitos ao longo de 2014 valeram-lhe outra distinção: a de Personalidade do Ano 2014. Para 2015, sonha com a entrada no World Championship Tour (WCT), uma liga com os melhores surfistas do mundo e onde, até hoje, apenas um português entrou, justamente Tiago Pires. Agora com 20 anos, Vasco diz sentir-se aliviado por poder dedicar-se exclusivamente às competições séniores. E até já conta com o apoio da marca portuguesa Deeply como seu patrocinador principal. “Estou muito contente por ser uma marca nacional. É o primeiro passo, porque Portugal tem tudo o que precisa para estar no topo do mundo, ao nível da Austrália ou do Havai”.

Mas este está longe de ser o maior de desafio do surfista. Este ano esperam-no também novidades na vida pessoal: o surfista vai ser pai. “Ter uma filha só vai trazer coisas boas, tem-me dado imensa força. Estou desejoso para que ela nasça”, confessa o atleta. Se 2014 foi inesquecível, 2015 poderá revelar-se um ano de sonho. 

rita.porto@sol.pt