Granadeiro viu Salgado a esbracejar mas não enviou bóia

O ex-presidente da PT justificou hoje aos deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES/GES com a dualidade da comissão executiva e questiona o trabalho desenvolvida pela auditora PWC. Nega ainda que tenha enviado uma bóia de salvação a Ricardo Salgado. 

Granadeiro viu Salgado a esbracejar mas não enviou bóia

"Nunca combinei com Dr. Ricardo Salgado qualquer operação. Falei sobre decisões estratégicas. A PT sistematicamente está em roadshow. Muitas vezes, o próprio CEO estava em roadshow com o fornecimento de informações mais profundas do que as partilhadas nos relatórios trimestrais. E o mesmo acontecia com os accionistas portugueses, que chegaram a ter 36% da companhia. Sem nunca chamarmos roadshow, eu falava muito com os accionistas portugueses – BES, Visabeira, Controlinveste, Ongoing", explicou.

Henrique Granadeiro diz que nunca se comprometeu com Ricardo Salgado a investir na PT. "Eu nunca negociei. Não era essa a minha função e com certeza que na casa existiam pessoas mais habilitadas para isso".

"Essa informação de que o negócio foi feito entre mim, Zeinal Bava e Ricardo Salgado não é exacta", reitera.

“A história de que vi o Dr. Ricardo Salgado a esbracejar muito aflito e enviei uma bóia de 900 milhões para salvá-lo é muito bonita e muito romântica, mas não tem nada de verdade”, refere Henrique Granadeiro.

O ex-presidente da PT justifica o crescimento do investimento de tesouraria da PT no GES com a dualidade na gestão da PT. “Os acréscimos do investimento no BES/GES resultam do dualismo da gestão na mesma comissão executiva. Nem todos sabiam de tudo".

Granadeiro reconhece que Ricardo Salgado lhe contou da necessidade de substituir a dívida da ESI para dívida da Rioforte. “Aquilo que eram as aplicações habituais na ESI, e dadas as reestruturações em curso com o Banco de Portugal, disse-lhe que ia falar com o CFO da PT” para avaliar a pertinência das aplicações, a sua remuneração e o horizonte temporal.

O CFO da PT falou não sou só com Amílcar Pires, CFO do BES, como também com o próprio presidente do BES, Ricardo Salgado.

Ex-presidente questiona trabalho de auditora

Henrique Granadeiro reconhe que, apesar de ter pedido, não teve acesso à auditoria realizada pela PriceWaterHouseCoopers.

“Há chamadas telefónicas e há comunicações electrónicas. Uma sala de mercados quase que não tem papel. É impossível a PWC [auditora] ter uma visão global sem ter acesso aos registos electrónicos. Não é convincente e de certa forma não corresponde ao profissionalismo que reconheço à auditora.”

A decisão de investimento da tesouraria da PT no GES é justificada obviamente pelo “melhor preço”. Granadeiro não tem provas que tenham sido feitas consultas ao mercado antes de ser decidido o investimento no GES. E justifica-se: “Nunca assinei um cheque na PT. Há uma segmentação de funções. Há uma ordem de serviços. Os órgãos são colegiais, mas cada um tem a sua responsabilidade. Não acredito que a consulta não tenha sido efectuada”.

“Fazer consultas ao mercado não significa que diversifique os investimentos automaticamente, porque se há um melhor preço…”, insiste o ex-presidente da operadora.

Papel da CGD

Granadeiro refere que o banco público, CGD, também tentou ser “beneficiado” com os investimentos de tesouraria da PT.

“A CGD batia-se até à última gota de sangue para obter bom tratamento. A liquidez com a Vivo foi repartida em partes iguais entre a CGD e o BES. Isto, apesar de a CGD ter 6% e o BES ter 10% em 2011.”