Assinatura de Angélico Vieira foi falsificada na compra do carro do despiste fatal

A suposta assinatura do cantor Angélico Vieira no contrato de compra do automóvel que conduzia e em que sofreu um despiste mortal foi falsificada, afirmou hoje uma perita do Laboratório da Polícia Judiciária no julgamento que começou esta manhã no Tribunal de Aveiro.

A notícia já tinha sido avançada em Setembro por uma fonte judicial, tendo hoje sido confirmada. 

“Alguém falsificou a assinatura de Angélico Vieira nesse mesmo contrato”, afirmou a especialista Andreia Gomes Vieira, do Laboratório de Polícia Científica (LPC) da PJ.

“Trata-se de uma imitação com alguma qualidade”, salientou, acrescentando não haver resultados conclusivos de que tenha sido o dono do stand, Augusto Fernandes. “Temos algumas condicionantes para chegar ao autor da falsificação”, explicou ainda a perita.

Mãe de Angélico diz que carro era emprestado

Entretanto, a mãe do cantor – que faleceu em 2011 num despiste do automóvel que conduzia na A-1 – disse esta manhã ao início do julgamento do acidente “ter a certeza absoluta que o carro da tragédia era emprestado”. E negou “qualquer negócio de carros” entre Angélico Vieira e o futebolista Abel Xavier.

Filomena de Jesus Tavares Vieira, cabeleireira, moradora em Almada, referiu à juíza que ao contrário da versão de Augusto Fernandes o carro do acidente não tinha sido comprado pelo seu filho. “O meu filho tinha três carros, um Ferrari, um Audi e um Porsche Cayenne, mas como gostava muito de carros de topo de gama, andava com o BMW emprestado pelo senhor Augusto Fernandes, do stand Auguscar, da Póvoa de Varzim”.

“Esse carro foi emprestado pelo senhor Augusto ao meu filho, que lhe disse que enquanto não o comprasse poderia andar com uns poucos de carros dele, o que era o caso desse BMW acidentado”, acrescentou.

“Na véspera do acidente, por volta das onze horas da noite, o meu filho disse-me que ia trocar de carro, não queria andar mais com aquele BMW, porque dava-lhe mais jeito um carro mais arejado, do tipo descapotável”, disse ainda Filomena Vieira. 

Um dos carros, o Porsche Cayenne, “não resultou de um negócio com o senhor futebolista Abel Xavier” acrescentou ainda, respondendo à pergunta do advogado João Magalhães, que representa o dono do stand.

‘Troca’ de acções cíveis

O Tribunal de Aveiro começou esta manhã a julgar uma acção cível em que os pais do amigo de Angélico que também morreu no acidente pedem uma indemnização.

Em causa está o despiste na A-1, perto de Estarreja, vitimando os jovens de ascendência angolana, no dia 25 de Junho de 2011, com um BMW conduzido por Angélico Vieira.

Os pais de uma das duas vítimas mortais, Hélio Filipe Van Dunem, interpuseram uma acção reclamando uma indemnização de 236 mil euros. Por sua vez, os pais de Angélico processaram o dono do stand, alegando que o carro acidentado não era do filho, mas do negociante de automóveis, que alegam ter forjado um contrato de compra e venda, falsificando-se a assinatura do filho. 

Entretanto, o Fisco pede mais 50 mil euros aos pais do malogrado cantor. Os pedidos de indemnização cível e as penhoras das Finanças, no seu total, ascendem já a cerca de meio milhão de euros, prevendo-se que esta batalha judicial demore ainda alguns anos.

Os pais de Hélio Jonilson Van Dunem Filipe, Fernando da Cruz Filipe (que trabalha em Angola) e Isilda Carlos dos Santos Van Dunem (a residir em Portugal), moveram uma acção judicial de indemnização, não só contra a mãe de Angélico Vieira, mas também ao Fundo de Garantia Automóvel, e ao stand Impocar, de onde saiu o automóvel acidentado.

Na acção judicial, os pais de Hélio alegam que o filho morreu devido “à extrema violência pelo embate do veículo que Angélico conduzia e à velocidade em que seguia”.

Já a mãe do cantor alega que o acidente ficou a dever-se ao “mau estado” dos pneus da viatura conduzida pelo cantor, que apresentavam “sulco na banda de rodagem inferior a 1,6 milímetros o que comprometia seriamente a fiabilidade e a segurança do veículo”.

“Além de não corresponder às dimensões inscritas no livrete, os pneus encontravam-se num estado tal, em que o rebentamento estaria iminente, fosse qual fosse a velocidade praticada pelo condutor”, segundo argumenta ainda Filomena Vieira.

Além da morte de Angélico e Hélio, Armanda Leite ficou tetraplégica e Hugo Pinto sofreu diversos ferimentos.