Controlador aéreo estava a dormir quando o avião da Malásia desapareceu

Este domingo foi divulgado um relatório de quase 600 páginas sobre o desaparecimento do avião da Malaysia Airlines. Um ano depois do acidente, as dúvidas são mais do que as certezas e a sucessão de erros humanos que vão sendo revelados não ajuda muito às explicações.

O relatório produzido por investigadores e especialistas de sete países mostra alguns detalhes que se revelaram fatais para os 239 passageiros do Boeing 777. Um deles envolve logo a torre de controlo do aeroporto de Kuala Lumpur, capital da Malásia, onde o responsável pela ligação com o avião durante a permanência no espaço aéreo do país estaria a dormir.

 

Contactado pela Malaysia Airlines às 5h20 locais, que queria saber se o avião já estaria a sobrevoar o Vietname, um funcionário da torre insistiu que só tinha começado a trabalhar às 3h da manhã, tendo o último contacto do avião sido à 1h20. Esse controlador aéreo acabou por dizer que ia “acordar o supervisor” para que ele fosse “à sala novamente confirmar quando tinha sido o último contacto”.

 

Logo aqui foram perdidas quatro horas, não se sabendo onde estaria o avião. Depois, do lado do Vietname a torre de controlo do aeroporto Ho Chi Minh também não teve uma resposta adequada, conclui o relatório. Os controladores aéreos vietnamitas demoraram 20 minutos a reagir ao facto de o avião não ter chegado ao espaço aéreo do país, quando os procedimentos internacionais obrigam a que se comecem a fazer tentativas de contacto dois minutos depois desse tempo previsto.

 

A dada altura, já com as dúvidas a surgir, a Malaysia Airlines garantiu que o avião estaria a sobrevoar o Camboja, quando na verdade os dados conhecidos do avião indicam que estaria a voar em piloto automático, a milhares de quilómetros de distância, no Oceano Índico.

 

As transcrições conhecidas mostram ainda que os controladores do Vietname não responderam a pelo menos uma chamada de emergência das autoridades da Malásia e tinham dificuldades em perceber sequer as questões colocadas. Isto apesar de, desde 2010, todos os pilotos e controladores aéreos estarem obrigados a passar um teste de inglês.

 

Mesmo quando soou o alarme sobre um possível acidente com o voo MH370, a resposta das autoridades foi lenta. Os serviços de emergência da Malásia desencadearam operações 5h13 minutos depois do último contacto feito pelos pilotos da Malaysia Airlines. No entanto, o primeiro avião de buscas só levantou voo mais de dez horas depois dessa comunicação final, às 11h30 locais.

emanuel.costa@sol.pt