Apenas 30% das escolas contestaram a sua avaliação externa

Apenas 30% das escolas contestaram os resultados da sua avaliação externa, segundo um relatório coordenado pela Universidade do Minho, que estabelece também uma relação directa entre esta avaliação e a valorização crescente dos resultados académicos.

Apenas 30% das escolas contestaram a sua avaliação externa

José Augusto Pacheco, professor catedrático e presidente do Instituto de Educação da Universidade do Minho, apresenta hoje em Coimbra, no âmbito de um seminário organizado pelo Conselho Nacional de Educação, os resultados preliminares do Projecto AEEENS – Impactos e Efeitos da Avaliação Externa de Escolas.

A investigação que decorreu ao longo de três anos, foi financiada pela Fundação Para a Ciência e Tecnologia (FCT) e envolve, para além da Universidade do Minho, a instituição que coordena o estudo, as universidades do Porto, Coimbra, Lisboa, Évora e Algarve, num trabalho de investigação nacional que representa, disse José Augusto Pacheco à Lusa, "o primeiro grande estudo feito a nível nacional sobre o impacto dos efeitos da avaliação externa na escola e na comunidade".

O modelo de avaliação externa, aplicado exclusivamente nas escolas públicas, desde o ano lectivo de 2005-2006, e sob a responsabilidade da Inspecção-geral de Educação e Ciência (IGEC), tem, segundo o professor catedrático da Universidade do Minho, "uma aceitação bastante global", ainda que "mais pelos directores do que pelos professores", tendo o estudo verificado "um certo alheamento dos professores em relação ao processo de avaliação externa".

"Nós estudamos oito anos de avaliação, desde 2006, e só 30% das escolas apresentaram contraditório. Existe um modelo de avaliação, um relatório, as escolas podem apresentar um contraditório, e ao longo de oito anos apenas 30% das escolas o fizeram", disse José Augusto Pacheco.

De acordo com os resultados preliminares da investigação, a avaliação externa das escolas tem contribuído para "um reforço do alinhamento da avaliação externa com a auto-avaliação das escolas", sendo "um efeito bastante visível" que a auto-avaliação é resultado dos processos externos.

Outros efeitos que o estudo hoje apresentado revela recaem sobre a organização administrativa das escolas, patente na uniformização de documentos, por exemplo, e na componente pedagógica, com efeitos na articulação curricular, critérios de avaliação, e, sobretudo, referiu o coordenador da investigação, na "valorização dos resultados académicos".

"Um dos aspectos que tem sido realçado pelos relatórios internacionais, como os da OCDE, é que o modelo que precisa de incorporar a observação de aulas e de entrar mais nos processos educativos e não tanto nos resultados. O modelo tal como está tende para a valorização dos resultados. Há uma relação directa: a avaliação externa das escolas tem contribuído para a valorização das avaliações nacionais, ou seja, das provas no ensino básico e dos exames no ensino secundário", afirmou José Augusto Pacheco.

A consequência, segundo o professor da academia do Minho, é um olhar das escolas "muito centrado" nos resultados e a adopção de "práticas concordantes" com a valorização desses resultados.

"A avaliação tem contribuído mais para mudanças administrativas e pontuais e não tanto para a melhoria da qualidade da própria escola, sobretudo ao nível dos processos de aprendizagem. A avaliação centra-se essencialmente em aspectos administrativos e pontuais", afirmou.

Lusa/SOL