Fernando Ulrich: ‘Não nos façam mais leis. Isto é um inferno’

“Não nos façam mais leis”, pediu Fernando Ulrich em resposta à deputada do PS, Clara Marques Mendes. O banqueiro diz ainda que “as autoridades deviam ter feito mais e mais cedo” no caso BES/GES.

Fernando Ulrich: ‘Não nos façam mais leis. Isto é um inferno’

O presidente da comissão executiva do BPI, que está hoje a ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES, considera que “para todas as matérias já existem regras, recomendações, determinações para que se funcione bem”. Esta é a sua resposta quando questionado sobre futuras propostas legislativas que evitem a repetição de casos como o BES.

 

“Isto é um inferno. Não nos façam mais leis. No limite, o que contam são as pessoas. Tenham os modelos que quiserem”, afirmou, defendendo que o problema é a actuação dos gestores e não a falta de legislação.

 

“Os problemas no GES eram visíveis desde 2002 e os problemas no BESA desde 2009, portanto não vou ser eu a responder o que  era possível ter feito à meia-noite do dia 3 de Agosto", refere.

Propostas da CMVM

Ulrich diz desconhecer com precisão as propostas da CMVM – proibir o self-placement; proibir o financiamento de ações próprias e proibir o financiamento de accionistas.

 

Ainda assim, sobre a proposta para proibir o self-placement, o banqueiro contesta de imediato. Recorde-se que uma eventual proibição do self-placement significaria que a comercialização de produtos próprios das instituições seja feita através de outras entidades.

 

“Se vamos discutir o self-placement, então vamos discutir o principal placement, que são os depósitos. O produto mais sensível são depósitos. Se não puder colocar os depósitos, então vou colocar onde?”

 

“Não tentem resolver tudo com algoritmos jurídico-mentais. A CMVM devia ter lá chegado mais cedo", disse, adiantando que o supervisor dos mercados financeiros fez bem em ter obrigado o BES a reduzir a exposição do fundo de investimento ES Liquidez a entidades do GES. No entanto, dada a vulnerabilidade de todo o universo Espírito Santo, só restava aos gestores do BES colocar essa dívida indevidamente nos clientes de retalho.

 

“A intervenção no GES deveria ter sido em 2012”, defende.

 

“A solução era, no mínimo, polémica. Alguém que não esteja em necessidade não vai por esse caminho, não vai colocar dívida nos clientes de retalho. Isto era a demonstração de uma situação de vulnerabilidade”, afirmou, referindo-se à exposição do fundo ES Liquidez no início de 2013.

 

Fernando Ulrich chegou a reconhecer durante a audição que teria sido necessária “alguma humildade” para que os gestores do BES tivessem reconhecido perante os seus pares, supervisores e os mercados os problemas que a instituição enfrentava e decidisse encontrar um caminho.

sandra.a.simoes@sol.pt