Registos (VIII)

1. Deslizando para a paridade. Em antecipação do quantitative easing, o euro depreciou cerca de 10% desde o início do ano, ultrapassando a barreira dos 1,10 dólares e atingindo o seu valor mais baixo em 12 anos. Esta evolução não é um acidente mas antes uma consequência desejada (mas não confessada) do novo expansionismo monetário…

2. Vigilância revolucionária. A evasão fiscal é um enorme problema na Grécia. Fez bem o governo do Syriza em conceder ao seu combate uma altíssima prioridade. Mas a evasão fiscal reflecte sempre a incapacidade do Estado de cobrar os impostos que decreta. Ou seja, antes de tudo, uma falha do Estado. Mais, constitui mesmo uma característica dos chamados 'Estados-falhados'. A solução duradoura para ela é reconstruir a máquina do Estado. Foi isso que se fez em Portugal, num processo paciente, iniciado por Paulo Macedo como secretário de Estado de Manuela Ferreira Leite, que levou muitos anos, mas que finalmente deu resultados. Na Grécia o Governo optou não pela constituição ou solidificação de instituições, mas, ao invés, pela vigilância popular chavista contra os eventuais prevaricadores. E como bom governo revolucionário, 'armou' o povo. As armas são as típicas dos revolucionários mediáticos: câmaras e gravadores, com os quais turistas, estudantes e cidadãos em geral são chamados a registar os episódios de suspeitos delitos fiscais. Mas não é comédia. É antes uma tragédia de contornos inquisitoriais, da qual resultarão muitas delações por motivos de puro ódio, inveja ou ciúme. Que longe está Portugal da Grécia. Fazem muito bem os que o proclamam.