Os cofres cheios e a pobreza – II

Lá vou escrevendo os meus textos, e os leitores, se gostam, fazem ‘like’. No momento em que escrevo esta crónica, o de ontem não teve nenhum. Zero, népias. Nunca me tinha acontecido. O facto foi tão inabitual que me fez escrever este segundo texto sobre o tema.

Em primeiro lugar, quero que fique claro que sou contra a pobreza. Mas os pobres aqui estão, e têm de ser ajudados, de muitas maneiras possíveis.

Em segundo lugar, estou com a suspeita com os leitores de direita fazem ‘like’ se o texto é mais à direita, e idem para os de esquerda. Ontem, compreendi o resultado da estratégia de Freitas do Amaral ‘rigorosamente ao centro’: zero ‘likes’. Não dói, mas custa o suficiente para eu escrever este texto.

Quanto à questão da pobreza em si, penso que o governo faz bem em manter uma reserva monetária importante. Sem essa reserva, é impossível que a taxa de juro portuguesa com o prazo de 10 anos estivesse nos 1,64% a que negociou ontem. Não é a única razão para termos uma taxa de juro tão baixa, mas é uma delas.

Compare essa taxa com a da hipoteca da sua casa e compreenderá que podia estar a fazer melhor negócio, se o banco concordar em baixar-lhe a taxa.

E pagar juros, quanto menos melhor. Seja para um particular seja para um Estado. Sobra mais dinheiro para outras coisas, como combater a pobreza.

Esta semana vão sair números detalhados do PIB, e perceberemos melhor em que sentido vamos. Para já, estamos a subir, mas devagar.

Os pobres têm de ser ajudados, mas ao mesmo tempo as contas públicas têm de caminhar para o equilíbrio. É um caminho que tem de ser feito em paralelo.

Não é consolo, mas pode ser pior. Vivi algum tempo na Bélgica, onde todos os anos morriam pessoas de frio por não terem dinheiro para pagar os aquecimentos para as casas. Isto num dos países mais ricos do mundo, mas com uma protecção social ineficaz. Mas a disciplina orçamental vinha em primeiro lugar (nota: não defendo o mesmo).

A dívida pública da Bélgica, em % do PIB, era o dobro da nossa. Hoje são equivalentes. Valerá mesmo a pena gastar dinheiro sem critério?

A austeridade deixou-nos feridas profundas, que não podem ser reparadas de um dia para o outro. Pela minha parte, tentarei continuar a escrever com objectividade e imparcialidade. Com ou sem ‘likes’.