Santos Silva: ‘Dinheiro veio do Grupo Lena’

Tanto José Sócrates como Carlos Santos Silva – o empresário e amigo de longa data, titular das contas bancárias na Suíça e em Portugal que, entre 2005 e 2010, juntaram os cerca de 23 milhões de euros de Sócrates que o MP suspeita serem ‘luvas’ – confirmaram parte dos factos em causa, lê-se no acórdão…

“O próprio arguido Carlos Santos Silva reconheceu a existência dos fundos colocados no exterior, em nome das entidades offshore Brickurst International e Pinehill Finance, ambas com contas na UBS de Zurique, tendo admitido serem em parte pagamentos realizados pelo Grupo Lena”. E “os administradores do Grupo Lena António Barroca Rodrigues e Joaquim Barroca Rodrigues fizeram transferências das suas contas pessoais em Portugal” para a Suíça.

Corrupção sim, mas também tráfico de influência

A Relação concorda que até ao interrogatório de Sócrates “não estava feita ainda prova decisiva” do crime de corrupção. 

Da amostra, visionam o todo e salientam que é “como diz o adágio popular: gato escondido com rabo de fora…!”. Ou seja: “se a franja da prova (o rabo do gato) está muito visível (…), podemos também concluir, em face das circunstâncias e contornos do caso, ser altamente provável que os fundos financeiros em causa, no todo ou pelo menos em parte, pudessem ser originados pelas suas ligações políticas e do seu amigo ao Grupo Lena, a negócios de favor (o gato escondido) e à actividade do arguido (mesmo, quiçá, durante o exercício das suas funções políticas em que aqueles negócios se firmaram)”.

E os juízes vão mais longe. Defendem que não é apenas a corrupção que está em causa, mas também tráfico de influências e que ambos os crimes e podem “intuir como já indiciados com um elevado grau de probabilidade”. 

200 milhões em contratos

O “corpo do gato escondido”, como diz a Relação, estará nos concursos públicos ganhos pelo Grupo Lena. Segundo o procurador Rosário Teixeira, citado no acórdão, estão a ser analisadas adjudicações “superiores a 200 milhões de euros”, entre 2007 e 2010, entre “projectos da Parque Escolar, do TGV e das parcerias rodoviárias público-privadas”.