Morreu o economista que considerou Portugal um país desigual e corrupto

O economista e antigo ministro das Finanças José Silva Lopes morreu hoje aos 82 anos, depois de uma vida dedicada à economia portuguesa e a um país que considerou “profundamente desigual” e “bastante corrupto”.

Morreu o economista que considerou Portugal um país desigual e corrupto

Nascido em Seiça, concelho de Ourém, distrito de Santarém, em 1932, José Silva Lopes licenciou-se em Finanças no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras e ocupou vários cargos de relevo, com funções de muita visibilidade.

Presidente do Conselho Económico e Social, governador do Banco de Portugal, ministro das Finanças, deputado, negociador da entrada de Portugal na Associação Europeia para o Comércio Livre e no Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio foram alguns dos cargos que ocupou e funções que desempenhou desde que se licenciou em Finanças, em 1955, no antecessor do ISEG, o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF).

Depois de assumir a secretaria de Estado das Finanças no I Governo provisório, em 1974, passou a dirigir o Ministério das Finanças nos dois governos seguintes, em 1974 e 1975, o que repete no III Governo constitucional, em 1978, não sem antes ser ministro do Comércio Externo no IV Governo provisório, em 1975.

Da instabilidade governativa seguiu para a governação do Banco de Portugal, entre 1975 e 1980, onde a "invenção" de divisas passou a ser o seu quotidiano.

Naquela altura, trouxe a Portugal uma equipa de economistas do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), dirigida por Richard Eckaus e integrada por jovens como Paul Krugman e Rudiger Dornbusch.

Após aqueles anos turbulentos, usou a sua experiência enquanto consultor do Fundo Monetário Internacional, em 1980, e do Banco Mundial, de 1981 a 1989.

Depois de um regresso ao ensino universitário, desta feita na Universidade Católica, em 1982, que durou até 1984, Silva Lopes foi deputado na legislatura de 1985 a 1989, eleito nas listas do Partido Renovador Democrático (PRD), criado pelo antigo Presidente da República Ramalho Eanes.

Dois anos depois foi nomeado representante de Portugal na administração do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, no qual ficou até 1993, ano em que iniciou a função de consultor do banco central, cargo que desempenhou até 1996, quando assumiu a presidência do Conselho Económico e Social (CES).

A consultoria no Banco de Portugal deixou-lhe algum tempo livre, que preencheu com mais um retorno ao ensino universitário, na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, entre 1994 e 1996, período que coincidiu com a presidência da comissão que visava o desenvolvimento da reforma fiscal.

Em 2003, foi agraciado pelo Presidente da República com a Grã Cruz da Ordem de Cristo, pela sua actividade de 48 anos como economista, quase sempre ao serviço do Estado.

Na última entrevista dada à agência Lusa por ocasião do 40.º aniversário do 25 de Abril, o economista caracterizou Portugal como um país "profundamente desigual" e "bastante corrupto".

"Apesar dos progressos na educação, temos uma população pouco educada no sentido formal e com um grau de instrução muito inferior ao da média europeia, das piores da Europa. Depois também somos um país bastante corrupto", afirmou.

O ex-ministro disse também que Portugal é um "país profundamente desigual", sublinhando que um dos males da democracia é a impunidade.

"A nossa liberdade acaba onde começa a liberdade dos outros e cá damos liberdade a todos os delinquentes", disse, acrescentando que Portugal foi longe demais na "protecção dos delinquentes".

Conhecido por ser um dos "mais eminentes e reconhecidos economistas portugueses", como refere o Banco de Portugal, José Silva Lopes foi responsável em Portugal pela introdução do regime de desvalorizações programadas do escudo.

Segundo o Banco de Portugal, aquela medida "ajudou a ultrapassar o período de instabilidade macroeconómica vivido na sequência do primeiro choque petrolífero e da mudança de regime".

Lusa/SOL