43 minutos

Durou 43 minutos o encontro entre Merkel e Sócrates. Mais 13 do que o anunciado…

durou 43 minutos o encontro entre merkel e sócrates. mais 13 do que o anunciado. no momento em que escrevo, sabe-se do que falaram, não do que se decidiu – e se é que algo, aí, se decidiu. falaram da dívida soberana portuguesa, do fundo europeu de estabilização financeira e do não-pacto que alemanha e frança subscreveram em escrita invisível. mas já não fazemos a menor ideia se aqueles 13 minutos de bónus foram, como o número gosta, os do azar. perez metelo, um analista económico habitualmente sensato, falou em ‘caldo entornado’ se sócrates não conseguisse convencer merkel das suas boas intenções, do rumo que o país leva ou de algo assim parecido. terá precisado ele dos 13 minutos ou, pelo contrário, foi a chefe em acto da europa que os aproveitou para discriminar, detalhe a detalhe, as suas instruções à província do sudoeste? eis o tipo de especulação que só as novidades das próximas semanas acabarão por deslindar.

é que, a avaliar pelo título do público – «merkel elogia reformas em portugal, mas diz que é preciso mais» –, o nosso primeiro não teria ido a despacho, mas a consulta à mais famosa das pitonisas de berlim. a chatice é que a senhora se repete e todos os de bruxelas a repetem: afinal, há muito sabemos estar no ‘bom caminho’ e que, por isso, virá ainda pior. isto cansa…

o que é estar no ‘bom caminho’? foi o que procurei explicar a uma plateia europeia nesta manhã. ‘bom caminho’ é estar o salário a perder por três vias distintas: na função pública, porque perde em valor absoluto e teixeira dos santos quer que o mesmo suceda no sector privado; o salário reduz–se, em segundo lugar, por via do aumento do iva; e, finalmente, encolhe na sua parte indirecta na medida em que se abatem apoios sociais e aumentam os preços praticados nos serviços públicos. o remédio dos governos não é mais do que uma maciça transferência de rendimentos do trabalho para o capital. suspeito que, quando a senhora merkel diz ser «preciso mais», seja a isto que se refere.

o ataque ao salário indirecto tem exigido um segundo movimento: o que transforma dívida privada em dívida pública. o salvamento do sistema financeiro em 2008 e 2009 foi, numa escala colossal, isto mesmo.

contudo, não impediu a economia de mergulhar na recessão. em consequência, os estados tiveram que ‘almofadar’ os seus sistemas de apoio social e suprir a quebra do investimento privado com algum investimento público. o aumento do défice e da dívida pública foram o resultado de um crime de agiotagem levado a extremos até então desconhecidos.

mas disto não falaram eles. este tempo não é de almofadas, mas de reguadas e tareias de cinto sobre quem não teve nem tem culpa. um dia destes ainda se tramam.