Estranho

o que pode levar alguém ao voto contra os seus mais elementares interesses? Confesso a minha perplexidade.

que motivo terá um pensionista para votar no congelamento da sua pensão durante três anos? uma medida que, descontada a inflação previsível, representa uma perda de pelo menos 10 por cento da remuneração, medida em poder de compra… só consigo encontrar uma explicação. se a referida reforma for como a de antónio vara, talvez a consciência cívica fale mais alto do que a volúpia do dinhero infinito. mas isso é se o referido pensionista for mesmo da classe dos eleitos. a minha perplexidade paira é sobre o reformado de mil euros, ou o de 500 euros ou o de 291 euros, que se encontra exactamente na média das pensões deste país.

pergunto-me também sobre o que poderá levar uma funcionária pública, seja ela a mulher de limpeza de uma autarquia, ou uma enfermeira de hospital, ou mesmo uma professora, a poder votar em quem lhe quer congelar o salário e aumentar brutalmente a conta da electricidade?

nestes casos, os vencimentos oscilam entre os 485 euros de salário mínimo e os 1200 de um salário bem mais alto do que médio, embora longe do auferido por gestores do sector empresarial do estado. é, confesso, a minha perplexidade.

uma perplexidade que volta a estar presente quando vejo um jovem, precário como todos os da sua idade, pensar que a abstenção ou o voto nos partidos das jotas pode ser uma saída para a sua condição de adulto condenado à adolescência até aos 40 na casa dos pais. de facto, o que pode levar alguém ao voto contra os seus mais elementares interesses?

a condição material não é tudo. as pessoas preocupam-se, com razão, sobre o modo como o estado é gerido. e quando votam, fazem-no em nome de uma certa ideia de estado. por exemplo, porque votará um eleitor socialista no seu partido quando este, explicitamente, quer que o psd também vá para o seu governo? isto seria normal… não se desse o caso do ps dizer cobras e lagartos do psd. por outro lado, porque votará uma eleitora social-democrata em passos coelho se já se percebeu que o problema deste não é com o ps mas com josé sócrates? também esta seria uma dificuldade menor, não se desse o caso do discurso oficial ser o de que os laranjas só governarão com os azuis do cds.

quer-me bem parecer que, nestes casos, o voto só é útil para quem o recebe. ou alguém acredita que as virtudes chegam quando se metem todos os despesistas à mesa do orçamento? mas isto sou eu a conversar com os meus botões e a duvidar de todas as sondagens, salvo no ponto em que dizem que são muitos os que não sabem ou não querem responder…