‘Há excesso de oferta de restaurantes no país’

Pode parecer um contra-senso, mas a crise leva ao surgimento de mais cafés e restaurantes.

«com o desemprego a aumentar em portugal, a abertura indiscriminada de novos estabelecimentos, que muitas vezes não primam pela qualidade é fruto do desespero, da ideia de que é fácil pôr a funcionar um restaurante», explica o secretário-geral. «é uma tentativa de fuga para frente, por exemplo, no caso de um desempregado que acabou de receber uma indemnização e vem aplicar nesta área», continua josé manuel esteves. «a nossa tutela era o governo central, através da direcção-geral de turismo, mas fomos abandonados a 308 impreparadas autarquias que não podem dizer que não a um cidadão do seu concelho que quer abrir um estabelecimento de restauração e bebidas para criar quatro ou cinco postos de trabalho», justifica.

«surgem muitos desempregados a abrir negócios secretos de fim-de-semana e a asae já nos pediu informação sobre essas actividades, porque é clara concorrência desleal», sublinha ainda.

daí que uma das preocupações da associação seja a «massa imensa de excesso de oferta de restauração em portugal» que está muito acima da média europeia. segundo contas da ahresp, em portugal há um restaurante por cada 120 habitantes, quando na europa esse rácio é de 450 pessoas por estabelecimento. no total, haverá cerca de 85 mil micro e pme neste sector, que emprega cerca de 350 mil pessoas.

por outro lado, o sector da restauração e cafés está também a sofrer a concorrência da transferência do consumo para o lar e da ‘lancheira’ do almoço que cada vez mais pessoas levam para o trabalho. «até podemos ter o mesmo número de clientes, mas consomem cada vez menos», atesta o responsável.

segundo o barómetro do sector do alojamento, restauração e bebidas, no primeiro trimestre deste ano, 58,8% dos estabelecimentos inquiridos afirmavam que o seu volume de negócios tinha decrescido. desses, 29,4% tiveram uma contracção superior a 20% e outros 19,8% tiveram quebras entre 10 e 20%. no oposto, 9,6% apontava maior facturação, sendo as subidas mais significativas no máximo de 5%.

num cenário de alteração do iva estes números podem sofrer agravamentos. segundo previsões da ahresp, o volume de negócios do sector da restauração irá cair 15,5% de 2011 para 2012, numa quebra acumulada desde 2008 de 1,5 mil milhões de euros. sem mexidas no imposto, esta actividade cairia 4,1% entre este e o próximo anos, ou 9,4% se se contabilizar desde 2008, perdendo 700 milhões de euros, numa indústria que gera cerca de sete mil milhões anualmente.

ana.serafim@sol.pt