Mira no BPN

A compra do BPN pelo BIC suscitou uma reacção epidérmica da oposição.

das «dúvidas» do ps sobre se a venda ao banco de capitais maioritariamente angolanos terá sido «o melhor negócio possível» para o estado, ao «cambalacho» que o be diz ter havido, ou ao pedido do pcp de «revogação» da operação, foram várias, mas sempre depreciativas para o governo, as adjectivações a que dirigentes e deputados dos partidos sentados à esquerda do psd recorreram para classificar a reprivatização do bpn. a que o estado estava obrigado (porventura num prazo demasiado curto) desde a assinatura do memorando com a troika, como uma das contrapartidas para a concessão da indispensável ajuda financeira pelo fmi, pelo banco central europeu e pela união europeia.

ora, toda a informação disponível aponta para o acerto da decisão tomada.

e mais ainda o facto de o decisor bem saber que tinha todas as baterias à sua esquerda assestadas contra a decisão, fosse ela qual fosse, mas sobretudo tratando-se de eleger um concorrente cujo presidente executivo em portugal (mira amaral) é um ex-ministro de cavaco silva.

na verdade, o histórico do caso bpn não permitia veleidades ao ministro das finanças (e ao governo) de julgar poder tomar tal decisão sem que a mesma viesse a ter um imediatamente posterior escrutínio à lupa. não só da oposição, como das entidades supervisoras e, ainda, dos controleiros internacionais.

o bpn é, desde há anos, uma arma de arremesso da esquerda contra o psd e contra cavaco silva – como, aliás, ficou patente à exaustão nas recentes campanhas eleitorais, e sobretudo na que antecedeu as últimas presidenciais.

e o ps, o be e o pcp parecem não se cansar de a arremessar, mesmo quando, manifestamente, a forma que já tomou – principalmente para o partido que foi governo até há mês e meio e não conseguiu resolver o problema (o concurso para a venda do bpn, há três meses, ficou deserto) – é a de um boomerang.

o bpn tinha de ter uma solução… e urgente.

à falta de uma solução óptima, restava a melhor solução possível. e foi essa que o bic, de capital angolano e cujo presidente executivo em portugal é mira amaral, protagonizou.

como ficou cabal e claramente explicado na audição parlamentar da secretária de estado do tesouro, maria luís albuquerque.

se o montepio tem um rating de lixo e pretendia apenas e só comprar os balcões do bpn (portanto, betão) e os sistemas de pagamento e depósitos e não estava interessado em tomar posição no capital social do banco; se o núcleo estratégico de investidores não dava garantias de credibilidade nem de pagamento dos mais de 100 milhões que prometia pagar (de modo faseado e num prazo demasiado alargado); e se o quarto concorrente, um particular, absolutamente nada garantia; não havia dúvidas de que a proposta do bic, ao contrário do que a oposição reclama, era de facto o «melhor negócio possível».

porque, como bem disse maria luís albuquerque, quem pode vender por 100 não vende por 40. e lá diz o povo que mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.

pior seria o estado e os contribuintes arcarem com os custos de uma eventual liquidação do bpn – inevitável caso este concurso tivesse tido a mesma sorte que teve o de há três meses. como se não fosse já bastante o sacrifício a que o estado e os contribuintes foram obrigados para tapar os buracos do bpn.

qual cambalacho, qual quê?

a venda do bpn ao bic é menos um problema que nos resta.

e se, livrando-se o estado desse problema, que era sério, o concorrente privado vencedor fica satisfeito com o negócio por si realizado – e tem razões para isso –, então, ainda melhor.

mario.ramires@sol.pt