Francisco de Assis, o primeiro ecologista

Hoje (4 de Outubro), os calendários cristãos festejam Francisco de Assis. Refiro-me ao santo – não vá acontecer a algum dos leitores o que me aconteceu a mim, ao tentar confirmar na internet a data do seu nascimento: esqueci-me de teclar o título de santidade que lhe pertence por direito, resultado da minha reacção endémica…

não acredito em coincidências, mas pelos vistos existem mesmo, como diria o meu amigo galego sobre as bruxas «pero que las hay las hay».

voltemos a são francisco de assis, cujo ano de nascimento os estudiosos situam em 1181 ou 1182. os registos não estavam ainda informatizados e, portanto, as datas não são rigorosas.

a europa, como hoje, atravessava uma gravíssima crise, a igreja católica, como hoje, perdera o norte aos seus princípios fundadores. como hoje, o dinheiro da burguesia então nascente e a liberdade das comunas recém-formadas por esses burgueses, provocavam guerras, fomes, doenças, para as quais não existia cura.

a idade média agonizava naquele século xiii, em que francisco, filho de um burguês abastado de assis, foi por influência do pai para uma qualquer guerra, conquistar honras e títulos.

os que ele defendia, perderam a guerra. francisco e os amigos foram feitos prisioneiros. quando, cerca de um ano depois, reconquistou a liberdade física, obteve também com ela a liberdade da reflexão e da escolha.

perto de assis, existia uma capela dedicada a são damião, quase destruída, onde o jovem se isolava para rezar e reflectir, perante uma cruz bizantina muito venerada pelos habitantes da região.

um dia, no fervor da oração, terá escutado um recado: «francisco, vai e reconstrói a minha igreja que está em ruínas».

como qualquer cristão, hoje ou à época, pensou que o recado se referia ao templo em ruínas.

vendeu uma peça de fazenda muito valiosa da loja do pai, deu o dinheiro ao padre que cuidava da capela e com ele deitou mãos à obra.

gosto de acreditar que foi com pedras nas mãos e todo salpicado de cal que são francisco foi percebendo que a mensagem lhe pedia a ‘revolução dos pacíficos’, numa ecclesia com os seus valores em crise e que se assemelhava a um saco de gatos, os quais era preciso tratar com luvas.

fosse ou não como eu imagino, o certo é que no século xiii de muitas mudanças o jovem burguês de assis depressa percebeu que a reconstrução que tinha a cargo era a da igreja de cristo e com ela a relação entre todas as criaturas de todo o mundo, pertencessem ou não a qualquer igreja.

sem poder, sem riquezas, sem ordens (são francisco nunca foi padre), ensinou-nos e continua a ensinar milhões de escuteiros que: «todas as coisas da criação são filhas do pai e irmãs do homem… todas as criaturas em desgraça têm o mesmo direito a ser protegidas…».

são francisco de assis, se vivesse neste século, talvez pertencesse ao green peace e certamente lutaria pela manutenção da biodiversidade. se vivesse neste século, francisco de assis gostaria de ter visto, no domingo passado, a herdade do esporão, onde se plantam rosas entre as videiras, para que as joaninhas que nelas habitam e se alimentam dos ácaros que provocam o míldio possam evitar o uso dos químicos brutais que nos envenenam a todos, lentamente.

catalinapestana@gmail.com