A via do Atlântico Sul

Álvaro Santos Pereira é apontado por muitos como o elo mais fraco do Governo de Passos Coelho.

ministro de tudo e mais o que houvesse, a verdade é que não tem dinheiro para coisa nenhuma.

não é fácil ser superministro da economia assim – em tempos de crise financeira e económica e quando a prioridade é o reequilíbrio das contas públicas, com inevitáveis sacrifícios para a… economia.

a multiplicidade de sectores vitais que santos pereira carrega nas pastas é, sem dúvida, demasiado exigente.

o superministro não tem experiência nem peso político que lhe permitam, de algum modo, compensar a falta de recursos (dinheiro, claro). mas tem saber. é reconhecidamente um bom teórico. embora, até agora, ainda não tenha conseguido provar que é capaz de o fazer render na prática.

vai tentando. o alargamento do horário de trabalho como meio de incrementar a produtividade das empresas – mais ou menos incompreendido pelos parceiros sociais – é um bom exemplo. e outro, talvez ainda não devidamente reconhecido, é a aposta na exploração das reservas nacionais de minério metálico, de trás-os-montes ao alentejo, com um potencial estimado muito próximo do pib anual português – álvaro santos pereira avançou nas negociações com a multinacional rio tinto para a recuperação das transmontanas minas de ferro de torre de moncorvo, confirmada há dias, e com o contrato de concessão para a prospecção de ouro na alentejana boa fé, assinado com a colt resources, na quarta-feira.

são bons exemplos, mas é, ainda, muito pouco.

a crise do euro e a ameaça de falência da grécia, de reflexos imprevisíveis para portugal, para a europa e para o mundo, estão a deixar de rastos a capacidade de financiamento da economia nacional.

aliás, passos coelho é o primeiro a reconhecer que não tem «assegurado o financiamento da economia» (público de ontem) – porque não tem mesmo.

a tarefa de santos pereira, se era pesada, tornou-se hercúlea.

acantonado na cauda da europa, portugal está cada vez mais condenado a voltar-se para o atlântico. e, aí, ainda bem. porque é a única saída, como tão bem projectava êrnani lopes, na defesa das parcerias estratégicas com angola e brasil, na tese que nomeava de «triângulo virtuoso».

países emergentes e com um crescimento notável, angola e brasil (com moçambique, cabo verde, são tomé e guiné) são fundamentais para o futuro de portugal.

e portugal é a porta preferencial de entrada desses países na europa – ou o «porto mais seguro», nas palavras de sérgio cabral, governador do estado do rio de janeiro (diário económico de ontem).

passos coelho escolheu o brasil, na semana passada (aproveitando a cimeira ibero-americana no paraguai), e angola, na próxima semana, como destinos para as suas primeiras visitas oficiais fora do espaço europeu.

é um claro, e positivo, sinal.

as parcerias, no plano institucional e económico, com os governos dos presidentes josé eduardo dos santos e dilma rousseff são estratégicas.

o governo português deve, aliás, seguir, apoiar e incentivar os exemplos de sucesso – e, felizmente, são vários – dos investidores privados, portugueses, angolanos e brasileiros.

os países de língua portuguesa dominam o atlântico sul – com um potencial de mercado ímpar.

a estratégia de internacionalização da maioria das empresas portuguesas passa, em primeiro plano, por angola e pelos países de língua portuguesa. e a dos investidores angolanos por portugal. e a dos brasileiros também por angola e por portugal, como acessos à áfrica austral e à europa.

álvaro santos pereira atravessou o atlântico norte para assumir a missão, quase impossível, de tutelar com sucesso o superministério da economia do governo de passos coelho e de paulo portas.

tanto o líder do psd e primeiro-ministro como o líder do cds e ministro dos negócios estrangeiros já demonstraram que apostam no atlântico sul como a via mais directa para a saída da crise.

álvaro santos pereira tem de saber aproveitar a boleia.