Portugueses estão mais exigentes na escolha de casa

Diz-se que Portugal é um país de proprietários. Comprar casa é o desejo da maioria das famílias portuguesas e desde a década de 80 do século passado essa possibilidade foi facilitada, a partir do momento em que os bancos abriram os ‘cordões à bolsa’ e decidiram emprestar dinheiro para satisfazer esse sonho.  

Quase todas as pessoas conseguiam obter um crédito à habitação e não foi difícil vender tudo o que havia para vender em matéria de casas. Nunca o mercado imobiliário tinha vivido momentos de glória como nas duas últimas décadas do século XX e na primeira do que atravessamos agora.
Com a chegada da crise, grande parte desses potenciais proprietários deixaram de conseguir pagar os empréstimos e os bancos ficam 'atolados' com casas vazias. As vendas caíram a pique, a procura diminuiu, a oferta cresceu e fecharam-se as 'torneiras' do crédito à habitação.
Depois de um longo período de desânimo em todo o mercado, a esperança renasceu no final de 2014. As vendas começaram a subir e os bancos dão sinais de apostarem novamente no crédito à habitação. Mesmo que as garantias e o cálculo de risco sejam mais apertados, as instituições bancárias voltaram a um dos seus principais focos de negócio.

Mais cuidado na escolha
Mas qual o perfil actual dos novos proprietários portugueses? O casal António e Maria Faria, com dois filhos, depois de já terem necessidade há algum tempo de uma casa maior, esperaram uns anos. «Com a conjuntura desfavorável para a compra de uma nova habitação, decidimos aguardar, porque as economias não eram muitas e os bancos não estavam receptivos ao empréstimo, só com entradas de 50%, algo impossível para nós. O arrendamento estava fora de questão, queríamos trocar a nossa casa por uma maior e por isso não queríamos perder o que já tínhamos investido na que tínhamos», lembra o casal. Só agora a família Faria voltou à ideia procurar uma nova casa.
A principal preocupação é o local, depois a tipologia e as áreas, nunca esquecendo o preço que podem atingir. Estas são ainda, na verdade, as principais prioridades na escolha de uma casa. O que difere então no perfil dos actuais compradores? António e Maria respondem: o cuidado na escolha. «Antes, não fomos tão exigentes porque pensávamos que a casa que comprámos seria um investimento e que mais tarde poderíamos vender por um preço mais elevado e comprar outra melhor. Não pensámos que poderia ser uma âncora e que poderíamos ficar amarrados a ela durante tanto tempo. Hoje olhamos para uma casa que possa servir para a vida», explicam.

Localização e preço são essenciais para comprar
Actualmente a escolha é mais criteriosa. «Comprar uma casa é muitas vezes uma das decisões mais importantes que se tomam na vida, já que é um bem de valor elevado, que não se pode trocar todos os dias. As famílias procuram, sobretudo, cumprir um sonho de uma vida mais confortável», revela Beatriz Rubio, CEO da Remax Portugal. A responsável adianta ainda que a localização é um factor determinante na escolha de uma casa. As famílias portuguesas procuram muito nos locais onde já residem ou têm apoio familiar, de avós, por exemplo. Gostam de boas áreas, sobretudo na sala, mas também na cozinha. A procura pelos imóveis T3 continua a reunir a preferência.
Beatriz Rubio salienta que o valor da casa é essencial na opção da compra. «No entanto, tendo em conta que a maioria dos portugueses compra através de crédito bancário, o valor da prestação também é determinante quando se escolhe o imóvel», acrescenta.
Luís Lima, presidente da APEMIP – Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, também concorda que a localização e o preço são os factores que mais pesam na decisão. «O preço é determinante na escolha de um imóvel. Cabe ao cliente analisar as propostas que lhe são apresentadas e avaliar os diferentes factores que interferem no valor do mesmo. Por exemplo, um imóvel no centro da cidade será mais caro do que um da periferia. Cabe ao cliente verificar o que é para si um melhor investimento», esclarece.
O perfil de procura das famílias portuguesas é muito variável, na opinião de Luís Lima. Depende da composição do agregado familiar e da faixa etária, que influenciam muito a tipologia a procurar, e da disponibilidade financeira.

Eficiência energética ainda não é uma prioridade
Quanto à construção e à eficiência energética, ainda não estão dentro das principais preocupações dos compradores. Contudo, estes são mais exigentes e Beatriz Rubio garante que os portugueses estão melhor informados, pelo que quando visitam uma casa, querem informar-se sobre os materiais utilizados e a qualidade de construção, para não terem surpresas depois. «Relativamente à certificação energética, a preocupação prende-se mais com a exigência da nova legislação do que com as reais implicações da certificação», esclarece.
Para Luís Lima a qualidade da construção é efectivamente uma das questões dos clientes. Procuram um imóvel com bons acabamentos, bem construído e que possa durar o máximo de tempo sem obras ou intervenções. «Quanto à certificação energética, eu diria que nos últimos anos se tem notado uma preocupação crescente, se bem que não é ainda factor que pese muito», esclarece.
Já a opção do arrendamento, segundo os dois responsáveis raramente faz um cliente desistir da ideia de adquirir uma casa.