As horas, como é óbvio, custam a passar num cenário daqueles e enquanto não chegam os resultados das análises e dos raios X, pode pensar-se em muita coisa. Eu, para além da inquietação e preocupação normal de filho, observava o comportamento daqueles que lá trabalham. Vi auxiliares e enfermeiras limparem pessoas atrás de pessoas – nesses casos fechavam as cortinas e pediam-me para sair para não ficar impressionado com o que passava para fora daquelas quatro paredes de pano… -, vi jovens médicas a correrem de um lado para o outro, enquanto tentavam perceber se não se estavam a esquecer de algum dado importante e quase sempre com uma 'mensagem' amiga; vi médicos seniores passarem com a naturalidade que a experiência lhes dá; vi como é injusto alguém seguir a carreira de medicina por ter nota 20, mas com pouca sensibilidade para a causa; vi pessoas arrogantes e ofensivas para os vários profissionais – médicos, enfermeiras e auxiliares; vi bombeiros prestáveis; e vi, também, muita solidão nalgumas das pessoas acamadas naquele sector.
Quando tanto se fala que a Saúde está bem pior, lembrei-me dos anos em que era cliente assíduo daquele hospital e em que os doentes se encavalitavam nos corredores, não existindo uma mão amiga; em que alguns médicos eram arrogantes e tratavam as pessoas de acordo com o seu estatuto social.
É certo que nos últimos anos já apanhei um ou noutro médico com mais jeito para empresário do que para exercer aquela profissão. Mas parece-me – e tenho, infelizmente, alguma experiência na matéria – que há excelentes profissionais e que desempenham o papel o melhor que sabem e que estão ali para ajudar. A esses, e a todos os outros com quem me tenho cruzado no papel de filho de uma paciente, a minha vénia.
vitor.rainho@sol.pt